Louçã no Facebook

Francisco Louçã comunicou ao país a sua saída do Bloco de Esquerda. Saiu a meio de Agosto, mas a comoção que provocou nas televisões foi a mesma do que se o tivesse anunciado em Outubro. Curioso foi o meio que usou para dizer que se ia embora: o Facebook.

ora, quem lê o facebook de louçã (cavaco, passos, etc.)? como há tempos bem observou pacheco pereira, os jornalistas. claro que não só. os especialistas nestas coisas insistem em dizer que os políticos estão no facebook porque querem chegar às pessoas, sobretudo aos jovens. a explicação não tem nenhum sentido, uma vez que os utilizadores das redes sociais não são da mesma geração, mas sim de uma certa classe social. louçã só chegou ‘às pessoas’ (até a mim, credo) porque a televisão deu a notícia. e tenho facebook (mas não tenho prazer). as pessoas a quem louçã ‘chegou’ com o seu post não são aquelas por quem se diz bater. essas ou não são jovens ou não têm acesso à internet.

mais um auto-golo

barack obama tem vários aliados no partido republicano. encaremos a excentricidade como uma sucessão de auto-golos por parte da campanha do gop. a mais recente veio do congressista do missouri, todd akin, que afirmou a pés juntos que é «muito raro» as mulheres violadas engravidarem. vou fazer uma tradução literal, mas boa, das suas palavras: «pelo que sei dos médicos, se for uma violação a sério – «legitimate rape» [atenção à contradição nos termos] –, o corpo da mulher tem formas de desligar aquilo tudo». mitt romney apareceu logo, muito aflito, a dizer que as palavras de akin eram insultuosas e aproveitou para defender o aborto em casos de violação. akin teve azar porque os números desmentem radicalmente a sua teoria. um estudo de 2003, da universidade de nova iorque concluiu que a gravidez após a violação é muito frequente porque os violadores escolhem as vítimas na sua fase mais fértil. a natureza é terrível.

assange em londres

tenho uma certa simpatia pela figura de julian assange. ou melhor: tinha. o capital de simpatia que reuniu com o wikileaks tem vindo a ser desbaratado com o seu comportamento cada vez mais incompreensível. na mais recente aparição na varanda da embaixada do equador em londres, onde se encontra há dois meses, pediu a obama que deixe de o perseguir. ora, julian assange, paladino da liberdade de expressão, divulgador de segredos de estado e conversas de diplomatas, pediu asilo ao equador, um país com uma política no mínimo obscura no que diz respeito à liberdade de imprensa. também agradeceu aos países da américa latina por o apoiarem na sua luta. até agradeceu às honduras, um país conhecido por proteger aqueles que dizem o que pensam… só não explicou por que vive agora na embaixada do equador: as acusações de violação a que terá de responder na suécia. mas se está inocente como afirma, de que tem medo? começa a ser difícil perceber o que pretende.

donos perigosos

«não achas mau guardador aquele que, tomando a seu cargo um animal qualquer, o torna mais selvagem do que ele era quando o recebeu?». a pergunta surge no diálogo de platão, górgias, e é formulada por sócrates (trad. manuel de oliveira pulquério, 516b). vem a propósito do problema dos ataques de cães perigosos com consequências por vezes irreversíveis. é evidente que a pergunta não tem sentido neste contexto para aqueles que pensam que o pitt bull nasce perigoso e é impossível de treinar. a minha opinião coincide com a de alguém que disse em tempos não haver cães perigosos: só há cães mais fortes do que outros. é o caso de raças como o dogue argentino, etc. precisam de um treino especial. é a lei, aliás, que obriga a este treino, de acordo com uma notícia na edição do sol da passada semana. mesmo que o cão cometa um acto horrível, não é responsável por ele. o cão não pensa. obviamente não vota. mas essa é outra questão.

um sérvio em portugal

portugal tem por fim um criminoso político na cadeia. não é português e o crime não foi cometido no nosso país, mas não sejamos tão exigentes. falo de mile mrksic, recambiado para a prisão de alta segurança de monsanto, ao abrigo de um acordo com o tribunal criminal internacional. mile mrksic foi condenado a 20 anos de cadeia por crimes de guerra de natureza medonha e cruel, que envolvem a tortura, o espancamento e a morte de 194 pessoas na croácia. as vítimas foram enterradas numa vala comum. acabará de cumprir a pena em 2022, mas parece haver uma hipótese de liberdade condicional em 2020. mile mrksic terá 72 anos e pode não ter morrido na prisão. em 2020, que está quase aí, poderá estar numa esplanada a beber um café, e se o governo da altura achar por bem, até pode ficar aqui a viver em paz até ao fim dos seus dias. e assim será reposta a ordem portuguesa no que respeita a pessoas que cometem crimes e vão para casa descansar.