Moçambique de relance

Há alguns meses, um dirigente político moçambicano, a quem felicitava pela vaga de grandes investimentos e projectos ligados à exploração dos recursos energético e mineiro do país, respondeu-me: «Bom, até agora provámos que sabíamos viver sem recursos. Vamos ver se somos capazes de viver com recursos».

uma semana passada em moçambique, em conversas e conversações com responsáveis políticos e económicos do país, deixam sobre esta dúvida um sentimento positivo. é capaz de haver essa capacidade de viver na abundância, do mesmo modo que houve de viver com as privações. porque existe, no país e na sociedade, uma capacidade de entendimento dos problemas e uma plasticidade de resposta a estímulos e situações diversas.

um dos amigos que me acompanhou, um banqueiro com banco aberto em 16 países africanos, refere a qualidade do aeroporto; depois deixa-se encantar pelo hotel, o polana; já no dia seguinte pelas águas e a luz do índico ao largo; pelo desenho urbanístico da cidade e a simpatia modesta das pessoas. mas também com a qualidade e a competência dos interlocutores políticos e financeiros com quem se vai cruzando.

com quase três mil quilómetros de costa, com estruturas portuárias estratégicas – em nacala, na beira, em maputo – com uma lista de descobertas energéticas e mineiras – gás natural (e possivelmente petróleo), ouro e metais – muita terra para produzir comida, e porta aberta para uma lista de países (os da sadc, cuja presidência rotativa assumiu agora), moçambique muda e cresce todos os dias.

as províncias de tete (lugar de cahora bassa e das jazidas carboníferas de moatize) de nampula (a ‘capital’ do centro-norte) e de cabo delgado, nas águas do qual se encontram os grandes jazigos de gás natural (entre mocímboa da praia e a foz do rovuma) são os pontos quentes deste desenvolvimento.

esta abundância surpreendeu no primeiro impacto e talvez alguns dos contactos para exploração tenham sido leoninos por parte dos estrangeiros. e também, numa primeira vaga de negócios, o estado moçambicano pode não ter recebido a receita fiscal que faria sentido em tal cornucópia.

mas, neste momento, os dirigentes políticos moçambicanos já têm consciência destas situações e os dirigentes da oposição e a nascente comunidade de opinião, também.

e o mais importante de tudo: os 30 anos de conflitos, a guerra da independência e a guerra civil – acabaram por acelerar e acertar a construção do estado, criando elites politizadas, destribalizando, unificando, construindo aceleradamente uma consciência nacional. é bom viver – e até visitar – uma terra assim.