Angola vota hoje

É enorme a expectativa que rodeia as eleições gerais em Angola que se realizam hoje. Cerca de 9 milhões de eleitores – de acordo com números da Comissão Nacional Eleitoral (CNE), que se baseiam na actualização recentemente realizada – votam hoje nas várias opções políticas que constam nos boletins de voto.

os eleitores angolanos, que regressam às urnas depois de terem votado em 1992 e 2008, têm a possibilidade de escolher entre as nove opções políticas cujos conteúdos foram explicados, com maior ou menor eficácia, ao longo da campanha eleitoral que decorreu nas últimas quatro semanas. unita, mpla, fnla, prs, nd, fuma, cpo, papod e casa-ce são os partidos e coligações que, nesta ordem, constam nos boletins de voto.

em causa estão os principais órgãos de estado angolanos. de acordo com a constituição aprovada no início de 2010, o cabeça-de-lista do partido mais votado será o próximo presidente da república e o cargo de vice-presidente será ocupado pelo número dois dessa mesma lista. além disso, destas eleições vai sair também um novo desenho parlamentar com a distribuição dos 220 lugares da assembleia nacional (an). as dúvidas sobre a vitória do mpla são poucas e a curiosidade que existe relaciona-se com a expressão da maioria que o partido no poder vai alcançar, e que eco vão ter os argumentos apresentados ao longo da campanha e dos últimos meses pela unita de isaías samakuva e pela casa-ce de abel chivukuvuku – antiga figura destacada da unita que em março apresentou o seu próprio movimento político.

recentemente, o porta-voz do mpla, rui falcão, admitiu ao sol que a meta a alcançar para estas eleições é chegar aos 85% de votos. ora, este valor representa um aumento de votação, uma vez que, nas legislativas de 2008, o mpla chegou aos 81,6% (191 deputados na an), a unita conseguiu 10,3% (16 deputados), o prs teve 3,1% (8 deputados), a fnla ficou-se pelos 1,1% (3 deputados) e a nd foi o último partido a conseguir representação parlamentar graças aos 1,2% alcançados (2 deputados).

nessa altura, o total de votos ultrapassou os 7,2 milhões, mas apenas 6 milhões 450 mil e 407 foram considerados válidos. segundo dados da cne, 5.266.216 angolanos votaram no mpla e pouco mais de 670 mil escolheram a unita. no que respeita às presidenciais de há vinte anos, que se ficaram pela primeira volta, josé eduardo conseguiu 49% e jonas savimbi 41%. a unita viria a não reconhecer legitimidade a estes resultados e o país mergulhou em mais uma década de confrontos internos entre o partido do ‘galo negro’ e o mpla.

a campanha

foram quatro semanas de intensa actividade partidária e foi percorrida quase toda a extensão territorial do país. nem todos os partidos conseguiram, como seria de esperar, realizar acções de campanha com o mesmo impacto e o mpla foi a força política que conseguiu mobilizar mais pessoas, não só em luanda, mas também noutras províncias do país. inclusivamente, em zonas consideradas como bastiões de outros partidos, por exemplo o huambo para a unita.

da parte do partido no poder, várias obras foram inauguradas nas últimas semanas, sendo a mais emblemática a realizada esta semana na capital angolana. a nova marginal que circunda a baía de luanda foi entregue ao executivo pela sociedade que geriu a sua requalificação realizada pelo consórcio português mota-engil/soares da costa. além desta obra, várias unidades de saúde, de ensino e outras infra-estruturas (barragens, aeroportos, ligações ferroviárias e portuárias) foram inauguradas por josé eduardo dos santos, mas também por outros membros do governo.

o cabeça-de-lista do mpla apelou, no último comício realizado no estádio 11 de novembro, ao voto e afirmou que continuará a promover o emprego para a juventude e a trabalhar «na promoção da mulher, na protecção da família. o combate à fome, à pobreza e ao analfabetismo será rigoroso». josé eduardo dos santos pediu ainda aos eleitores respeito pelas diferenças, tolerância e civismo e que a agitação e os excessos registados durante a campanha eleitoral se traduzam em serenidade.

samakuva afasta  hipótese de guerra

já a unita procurou realizar acções de rua nas principais cidades e províncias do país e tentou passar a mensagem de que o actual governo falhou em vários objectivos políticos, nomeadamente nas áreas sociais. face ao que diz ter sentido junto da população, isaías samakuva assumiu mesmo a meta de vencer estas eleições: «sinto que a mensagem é bem recebida. o desejo de todos é ganhar e o meu também».

quanto ao ‘fantasma’ de confrontos em caso de derrota nas eleições de hoje, a unita informou, através do seu porta-voz alcides sakala, que não tenciona realizar qualquer boicote: «nunca foi nossa intenção voltar a fazer guerra, até porque sabemos bem dos estragos causados por esta ao país. talvez só quem não é angolano ou as gerações do angola pós-guerra desconheçam o mal que o conflito de cerca de 30 anos provocou ao país», afirmou o também director da campanha da unita.

«isso gerou muitas mortes e desmembramento das famílias angolanas, pelo que a unita não pensa, jamais, em voltar a viver este triste cenário que sentiu na pele. há dez anos que a unita só pensa na paz, motivo pelo qual pede à população para ficar tranquila», sublinhou ainda alcides sakala.

o_prs, terceiro partido mais votado nas eleições de 2008, encerrou a campanha na capital angola e deixou mensagens centradas na paz social e na tranquilidade pública: «os nossos militantes e o eleitorado, no geral, devem acorrer às assembleias de voto de forma ordeira, para que possam contribuir na organização do processo no seu todo e possam votar em harmonia exercendo o seu direito de cidadania», apelou o secretário nacional do prs, benedito daniel.

este último contacto com os seus militantes, no município de viana, foi concorrido e serviu para responsabilizar os angolanos em geral pelo que acontecer durante o dia de hoje: «só os eleitores podem garantir a transparência e lisura deste processo, exercendo o voto com disciplina e respeitando a diferença e diversidade».

a casa-ce de abel chivukuvuku (ver texto na página seguinte), um dos motivos de maior curiosidade à partida para estas eleições, conseguiu agitar a política interna. chivukuvuku conseguiu, em poucos meses, agregar figuras de vários partidos políticos, nomeadamente da unita e do mpla. o caso do almirante andré mendes de carvalho ‘miau’ terá sido o mais mediático, devido ao facto de ser filho de um dos mais destacados membros do partido no poder.

o cabeça-de-lista da casa-ce disse acreditar numa boa votação, ainda que tenha reconhecido que impedir o mpla de alcançar uma nova maioria na an possa ser considerado positivo. chivukuvuku afirmou recentemente que, em caso de vitória, o seu partido respeitará os princípios democráticos: «a casa-ce vai protagonizar uma mudança responsável, ordeira e pacífica, que será a garantia de um país mais justo, com menos pobreza, mais emprego e educação para os jovens».

quanto à fnla, viu-se embrenhada numa luta interna protagonizada por lucas ngonda e ngola kabango. mesmo assim, as acções de campanha realizadas centraram-se na necessidade de um voto tranquilo e nas questões do desemprego, habitação e igualdade de oportunidades para todos os angolanos.

segurança garantida

uma preocupação – que pode ser comprovada em conversas informais com a população – está relacionada com a segurança. a polícia nacional (pn) garantiu esta semana que todos os meios disponíveis vão ser colocados no terreno de forma a que seja salvaguardada a ordem pública e a segurança das assembleias de voto.

o segundo comandante-geral da polícia nacional, paulo de almeida, sublinhou ainda que a pn_ assegurou todas as condições para a protecção e segurança das instalações da cne, comissões provinciais eleitorais e de armazenamento de material eleitoral. também a movimentação da logística eleitoral da cne para todas as províncias, municípios e comunas do país está garantida pela pn.

luis.c.branco@sol.co.ao