CNE no centro das atenções

As críticas à Comissão Nacional Eleitoral marcaram a campanha. A UNITA, maior partido da oposição, chegou mesmo a solicitar o adiamento das eleições por um mês.

a ida às urnas fica marcada pela contestação realizada pelos partidos da oposição ao funcionamento da comissão nacional eleitoral (cne) e à forma como foi conduzido todo o processo. a unita surgiu à cabeça das reivindicações e chegou mesmo a sugerir o adiamento das eleições pelo período de um mês para que fossem garantidas todas as condições para a realização de uma idas às urnas justas e transparentes.

«este é o pior processo de sempre. se foi deliberado, não posso dizer, mas não há condições para as eleições depois de amanhã [hoje]», disse samakuva esta quinta-feira em conferência de imprensa. horas antes, antecedendo o encerramento da campanha eleitoral, o presidente da cne, andré silva neto, veio garantir que o voto será realizado de acordo com todos os princípios democráticos.

durante meses, os principais partidos que estão na oposição atacaram a cne. primeiro, devido à nomeação de suzana inglês, magistrada com fortes ligações ao partido no poder, para presidir a este organismo, e depois à própria forma como foi articulado o processo dos cadernos eleitorais e foi realizada a escolha dos eleitores que vão estar nas mesas de voto. a cne veio a terreiro rebater os argumentos apresentados por esses partidos e garantiu que os princípios democráticos serão respeitados.

estas críticas são as notas mais recentes de uma contestação que tem tido outros episódios – as manifestações que se realizaram há alguns meses em luanda, mas também noutras cidades, e que foram conduzidas por jovens que contestavam o chefe de estado e a forma como estava a ser preparado o acto eleitoral de hoje.

do lado do partido no poder, a resposta passou, quase sempre, por demonstrações da sua capacidade mobilizadora de militantes através de marchas pela paz e democracia, mas também por momentos mais ‘musculados’, no que ao discurso diz respeito, por parte de dirigentes partidários e/ou políticos com mais capacidade de diálogo com as massas.

as eleições ficam caracterizadas pela presença de observadores internacionais, mas também pela ausência surpreendente de observadores da união europeia.

nos últimos dias, tem sido visível o trabalho efectuado pelos representantes da sadc (comunidade para o desenvolvimento da áfrica austral) enviados a angola para verificar o processo eleitoral. eles explicarão à comunidade internacional a forma como as eleições correram.

tudo está preparado para os resultados serem divulgados o mais rapidamente possível pela cne, mas essa tarefa ficará dependente da velocidade com que os dados cheguem das comissões provinciais.

unita saiu à rua

no último fim-de-semana, a unita realizou várias manifestações por todo o país a contestar a comissão nacional eleitoral. em luanda, o protesto percorreu várias artérias da cidade, tendo terminado na praça da família, junto ao largo da independência. participaram militantes e simpatizantes da unita, inclusive o seu presidente, isaías samakuva, e o secretário-geral, alcides sakala.

samakuva pediu aos militantes que se comportem de forma positiva durante todos os actos partidários, de forma a dignificarem o nome da unita.

no kuito, o coordenador provincial da unita, manuel savihemba, sublinhou o respeito do seu partido pelos resultados destas eleições. savihemba defendeu ainda a realização de eleições de uma forma livre, democrática, justa e transparente. no bengo, o secretário provincial da unita, simão dembo, apelou, em caxito, à disciplina e ao civismo.

luis.c.branco@sol.pt