Batalha das telenovelas está de volta

A luta pela liderança no horário nobre da televisão, entre as 20 horas e a meia-noite, está a ganhar um novo fôlego. Após dez anos de domínio total da TVI, a SIC está a conseguir captar mais telespectadores na primeira telenovela da noite, que se inicia às 21h30 em ambos os canais.

depois de ter ganho a liderança no horário nobre em 1994 à rtp1 e de a ter perdido em 2002 para a tvi, devido ao efeito provocado pelo programa big brother, este pode ser o primeiro sinal a apontar para uma nova chegada da sic à liderança no período mais valioso da televisão.

nos 20 confrontos directos, em agosto, entre a telenovela dancin’days, da sic, e louco amor, da tvi, a primeira ganhou 19, segundo os dados da marktest enviados ao sol. em média, 1,414 milhões de pessoas estiveram sintonizadas na telenovela da sic, mais 128,4 mil do que na tvi.

«a colaboração da tv globo tem resultados palpáveis na qualidade das telenovelas», diz ao sol o crítico de televisão eduardo cintra torres.

já francisco rui cádima, docente da universidade nova de lisboa, aponta a saída de josé eduardo moniz da tvi, há dois anos, como «um dos factores que está na origem da quebra» das audiências da estação detida pelos espanhóis da prisa. «tinha um grande conhecimento e controlava todo o produto da novela. isso era uma mais-valia», refere o académico, que qualifica josé eduardo moniz como «insubstituível».

olhos postos em gabriela

apesar de a sic estar à frente da batalha da primeira telenovela, a vitória na guerra do horário nobre ainda não está atribuída. a tvi domina a disputa entre as duas telenovelas seguintes. mal acaba dancin’ days, a sic perde quase meio milhão de telespectadores. a telenovela das 22h30, a brasileira o astro, tem em média menos 234 mil do que a sua concorrente portuguesa da tvi, doce tentação. a disputa entre insensato coração e remédio santo é favorável também a esta última, da tvi, que tem mais 86,4 mil espectadores.

«os telespectadores provavelmente pretendem continuar a ver um produto português e mudam para a tvi», observa eduardo cintra torres.

o trunfo da sic para continuar a ganhar terreno à tvi chama-se gabriela, cravo e canela. a reposição da primeira telenovela exibida em portugal, em 1977, «terá juliana paes como protagonista e isso pode ter um grande impacto», refere francisco rui cádima. a estreia está marcada para dia 10 de setembro e se a estratégia for bem montada, a tvi pode perder a liderança. «quando um canal começa a ganhar ascendente sobre outro, se a mais-valia for bem alimentada é muito difícil para a concorrência recuperar», alerta o investigador.

trinta e cinco anos depois da estreia das telenovelas em portugal, este género televisivo continua a dominar preferências. o cineasta antónio pedro vasconcelos diz que tal se deve apenas à falta de alternativas «resultante do parco financiamento do serviço público de televisão e do pouco dinheiro disponível para se realizar séries portuguesas de qualidade». mas são as «pastilhas elásticas», como as apelida o cineasta, que vão dominar o prime time.

frederico.pinheiro@sol.pt