ninguém pode dizer que lamenta perder o que, há muito, não existe. rtp-internacional é serviço público, sem dúvida. mas, de resto, onde está? na rtp1? em que dias? que programas? são ‘lágrimas de crocodilo’.
luís marques mendes, num excelente artigo que escreveu esta semana no correio da manhã, lembra bem que as mesmas lágrimas foram profusamente vertidas aquando da concessão de licenças de televisão à iniciativa privada. em 1990 e anos seguintes, não eram poucos os que alertavam, publicamente, que o surgimento das televisões privadas poderia pôr em causa a democracia… nem mais, nem menos!
há ainda muito por esclarecer sobre o caminho que vai ser seguido e o governo já assegurou que ainda não tem posição definida.
não tenho preconceitos ideológicos nesta matéria. em tese, gosto que exista serviço público, mas o canal público – o que é diferente – tem saído muito caro aos contribuintes. façamos o debate sem clichés mais do que ultrapassados.
é importante garantir equidade na exploração do mercado publicitário? sem dúvida. mas falamos dos canais de sinal aberto. o cabo está a mudar as regras do jogo, também aí.
é por isso que gostava de ouvir um debate mais interessante: rtp2 tem serviço público? deve ser mantida? as delegações nas regiões autónomas devem fechar? a taxa de televisão, com concessão a privados, justifica-se? sim ou não?
o estado não pode continuar a gastar o que gasta. o estado tem responsabilidades, no seu território e fora dele, no que respeita à defesa da identidade nacional, à difusão da cultura e, nomeadamente, da língua portuguesa. há que procurar o equilíbrio entre os diferentes princípios, valores e factores envolvidos.
a troika tem que mostrar agora sensibilidade
da quinta avaliação da troika espero compreensão, inteligência e sensibilidade.
há indicadores na economia portuguesa que demonstram bem o esforço que os cidadãos e empresas deste país têm vindo a fazer para ultrapassarem as enormes dificuldades com que se têm deparado. o das exportações é um deles. quanto ao estado, a evolução da despesa pública também dá sinais esclarecedores.
é importante que a troika compreenda, com inteligência, esses dados. e que tenha a inteligência para os relacionar, devidamente, com os da execução orçamental. o comportamento da receita fiscal exige que a troika seja capaz de compreender que o esforço a que sujeitou a economia portuguesa foi, seguramente, excessivo. há muitas empresas que fecham ou entram em insolvência, há muitos postos de trabalho que desaparecem, há vários sectores de actividade em crise profunda.
depois, é essencial que a troika tenha a sensibilidade, no actual quadro europeu, para não exigir a portugal metas que a própria situação da economia europeia tornou praticamente impossível alcançar. refiro-me, nomeadamente, ao défice.
portugal não tem de pedir nem mais tempo, nem mais dinheiro, porque o país deve respeitar os seus compromissos. a troika é que tem o dever de ter a sensibilidade necessária para ter a iniciativa de propor ajustamentos no programa de auxílio à economia de um país cujo estado tem sido impecável no cumprimento das suas obrigações.
carlos césar, afinal, pede ajuda financeira
lembro-me de carlos césar satirizar a governação de alberto joão jardim, quando foi apurado o montante da dívida da região autónoma da madeira. na altura, foi dito que os açores não tinham problemas desses, que tinham finanças equilibradas e que nunca haveriam de passar por nada de semelhante. pois! ‘pela boca…’ e mais vale que se tenha cuidado a atirar pedras aos telhados do vizinho quando os próprios são algo frágeis.
este pedido açoriano de ajuda financeira só pode favorecer a oposição, como tem acontecido em todos os casos em que é solicitado. seja em portugal, seja no estrangeiro.
trata-se, na verdade, de uma oportunidade muito favorável para berta cabral e o psd/açores poderem ganhar as eleições regionais. têm tudo a seu favor, excepto as dificuldades geradas pelas medidas tomadas a nível nacional, com repercussão em todo o país. e essas dificuldades não são pequenas. mas o ps tem as responsabilidades que se conhecem no estado do país, pelo que esse argumento, bem utilizado, não pode deixar de ter o seu peso.
nos açores os ventos sopram a favor da mudança. manterão a intensidade até ao dia das eleições regionais, a 19 de outubro? ainda há alguns factores de ponderação impossível. por exemplo, os resultados da nova avaliação da troika e o ambiente geral que então existir.