A ilha que muda vidas

No Outono, o rapper Sean ‘Diddy’ Combs lança o documentário Ibiza, sobre a ilha onde vai há 15 anos e que diz ter-lhe mudado a vida. Como ele, milhões de pessoas procuram as festas e as praias desta ilha balear. Cada vez com mais ofertas de luxo, feitas a pensar nos VIP, a crise –…

«ibiza mudou a minha vida». a frase é do rapper sean ‘diddy’ combs, no trailer do documentário ibiza, revelado na passada semana. ao ritmo de ‘run this town’, de rihanna e jay-z, diddy levanta o véu do seu mais recente projecto: uma aventura cinematográfica que serve também para expressar o seu amor por esta pequena ilha no mediterrâneo. visitou-a pela primeira vez há 15 anos e com ela aprendeu a crescer quer na música quer nos negócios que tem desenvolvido em paralelo, como a sua linha de roupa.

ibiza tem estreia mundial prevista para este outono, no revolt films – um novo canal de televisão dedicado à música. há quem se refira à película como a tentativa de diddy pôr a mão na florescente indústria da música electrónica. a ilha já serviu de inspiração a vários músicos – mais recentemente jennifer lopez e pitbull, em ‘on the floor’, referem-se a ibiza como uma das capitais mundiais da festa. quanto ao documentário, revela as suas paisagens inebriantes mas, sobretudo, a sua animada vida nocturna.

todos os anos, a pequena ibiza é invadida por turistas dos quatro cantos do mundo em busca de sol, praia e festa. muita festa. segundo o observatório de turismo espanhol, em 2011 ibiza bateu todos os recordes ao receber 2.335.269 turistas, dos quais a esmagadora maioria se concentra nos meses de verão. a temporada ibicenca arranca em maio para apenas fechar portas em outubro – ou cierres. fora deste intervalo é bem provável que lidere a lista das ilhas mais pacatas do mundo.

em 2012 – e apesar de a crise estar a tomar a europa de forma avassaladora –, ibiza teve, na primeira quinzena de agosto, uma ocupação de 94,81%, apenas menos 1,38% do que em 2011. uma pequena descida que não preocupa o presidente da federação hoteleira de ibiza e formentera.

roberto hortensius garante que «os números são muito bons para um contexto de crise como o actual». e acrescenta: «a impressão é que, no geral, a temporada será muito boa, sobretudo se compararmos com as quedas noutros destinos». a reforçar esta ideia, está o facto de o aeroporto de ibiza ter batido recordes no passado mês de julho, com 1.070.635 passageiros (0,2% mais do que no período homólogo de 2011). não sobra margem para dúvidas: ibiza tem razões para festejar. e a festa começa logo no aeroporto, o primeiro do mundo a ter uma discoteca, inaugurada este ano. aberta 24h/24h, tem 260 m2, dj permanentemente de serviço e vista para o parque natural de ses salines.

dj de culto
há quem veja ibiza como uma espécie de antidepressivo natural, um daqueles destinos de onde toda a gente sai com um sorriso e ansiosa pelo regresso. a pequena ilha do mediterrâneo começou a ganhar reputação no final dos anos 60, quando os primeiros hippies ali descobriram uma espécie de paraíso perdido. foram chegando de todo o mundo e ali se instalaram, criando o seu universo paralelo. com os anos, os hippies foram desaparecendo e ibiza foi ganhando fama como ilha da movida, onde é possível estar em festa 24 horas seguidas – ou mais; encontrar algumas das maiores e melhores discotecas do mundo, como o space, pacha, amnesia, ushuaïa ou dc-10; e os mais importantes dj da actualidade, como richie hawtin, ricardo villalobos, luciano, sven väth, carl cox, avicii e david guetta.

em nenhum outro lugar do mundo o dj tem tanto um estatuto de culto como em ibiza. alguns destes nomes fazem parte da história da ilha. é o caso de carl cox que provou a sua ligação a ibiza quando, em julho, ali celebrou os seus 50 anos com uma festa de arromba no space. «não havia forma melhor de passar o meu aniversário do que a tocar em ibiza», confessou numa entrevista. mas se carl cox é um dos dj que há mais anos se mantêm na vanguarda de ibiza, outros têm, mais recentemente assumido a liderança junto do público. david guetta parece querer tomar conta da ilha.

o dj que é muitas vezes acusado pela sua excessiva proximidade à música pop – mas que encabeça uma nova linha musical que tem vindo a ganhar espaço na noite ibicenca – é proprietário da recém-inaugurada discoteca do aeroporto e assina a festa mais concorrida de ibiza, a ‘f**k me i’m famous’, que em 2012 passou a acontecer duas vezes por semana: no pacha (onde já tinha lugar há vários anos) e no ushuaïa.

um novo epicentro
desde que abriu portas – primeiro como bar na playa d’en bossa e actualmente como hotel-sensação da ilha – que o ushuaïa se tornou o epicentro da movida ibicenca. é considerado um dos hotéis high tech do mundo – a piscina tem colunas submersas para que mesmo de baixo de água se oiça música. durante a temporada alta, o quarto mais barato custa cerca de mil euros por noite. mas é possível escolher outros, mais caros, como a suite pioneer, equipada com a última moda do equipamento de dj.

e em todos os quartos estão disponíveis kits eróticos. na recepção existe um estúdio de gravação. segundo um dos responsáveis pelo hotel, remy arroyo, a ideia foi criar «um parque temático para adultos».

este ‘parque’ ganha outras proporções durante as suas festas diárias – abertas ao público em geral. o ushuaïa chega a receber cinco mil pessoas, entre as quais já foram vistas muitas estrelas internacionais, como paris hilton, sean ‘diddy’ combs e dizzee rascal, que podem salvaguardar a sua privacidade alugando uma vip box, uma espécie de quarto-discoteca.

comodidades como esta – e como o novo restaurante-bar lio by pacha, na marina, onde facilmente se gasta 200 euros por refeição – voltaram a abrir a ilha para os famosos, seduzindo não apenas os habitués que gostam de passar despercebidos e não fazem vida nocturna, como a duquesa de alba, boris becker, bono, naomi campbell ou matthew mcconaughey; mas também os que gostam de dar nas vistas, como balotelli, dita von teese ou os já referidos paris hilton, sean ‘diddy’ combs e dizzee rascal.

com a ilha cada vez mais ‘colonizada’ pelos ricos e famosos, e o perfil do dj de ibiza também a transformar-se, os puristas temem que a ilha perca a sua mística. pete tong, um veterano da rádio bbc 1, uma lenda em ibiza, que continua a ser anfitrião de uma das noites do pacha e que foi a fonte de inspiração para o filme it’s all gone pete tong, disse numa entrevista: «o mercado vip está a encontrar um serviço cada vez melhor e mais ostensivo em ibiza. mas a verdade é que nenhum de nós quer que a ilha se transforme numa espécie de saint tropez». jon lee, do site augmented ibiza, questiona-se se 2012 não será o ano da mudança. as autoridades terão finalmente conseguido substituir o turismo underground, associado a festas e excessos, pelo turismo de luxo, que procura bons hotéis e restaurantes luxuosos?

claro que nada é assim tão linear. e, com mais ou menos famosos, ibiza voltará em 2013, pronta para se entregar aos prazeres da boa vida. a última festa desta temporada terá lugar a 8 de outubro, com o after-hours do dc-10. o último a sair que apague as luzes.

raquel.carrilho@sol.pt