quando não há ondulação para surfar, os surfistas dizem que o mar está flat (plano). mas esta é uma definição que não se aplica à indústria do surf em portugal. ondas nacionais, como a de 30 metros ‘cortada’ por garret mcnamara que apresentou o canhão da nazaré ao mundo, ou a praia supertubos de peniche, alargaram a fama de portugal lá fora. e, nos últimos anos, a modalidade entrou definitivamente em maré de crescimento.
o número de praticantes e as escolas da modalidade quase duplicaram. os surf camps – campos de férias para aprender e praticar – entraram no vocabulário de novos e velhos. e o emprego criado no sector disparou.
«o surf tem potencial para trazer três milhões de novos turistas para portugal, por ano», acredita o investigador do instituto superior técnico, pedro bicudo, que tem acompanhado esta indústria. os estrangeiros que se deslocam ao nosso país motivados pelo surf podem ficar uma semana no destino e gastar até mil euros em aulas, equipamento ou deslocações, contabiliza.
deslizar ao lado da crise
numa pesquisa apresentada em 2009, da qual foi co-autor, o também surfista e presidente da associação sos – salvem o surf analisou as receitas das marcas e os gastos de praticantes e de turistas que viajam à procura de boas ondas. e concluiu que, nessa altura, o surf renderia entre 150 e 200 milhões de euros em portugal. hoje, e ainda que não existam números actualizados, o responsável defende que as somas serão superiores e ainda podem subir.
em zonas como peniche, ericeira ou algarve, o volume de negócios terá crescido acima dos 10%, diz. pedro bicudo integra a equipa que, na universidade nova, iniciou há meses um estudo sobre o valor económico, ambiental e sociocultural do surf, com conclusão prevista para janeiro próximo.
«para promover a indústria do surf, o ideal era não aumentar muito os impostos no turismo e manter a costa natural, não fazer investimentos no litoral que estraguem a paisagem e as ondas», alerta.
é certo que, por exemplo, as vendas de vestuário e acessórios estão menos boas, mas «o número de escolas está a crescer, em particular neste período de crise, porque há pessoas que fazem surf e que investem em escolas para ter um rendimento económico», diz ainda.
ericeira: a melhor da europa
de acordo com as associações da modalidade, o surf representa entre 0,1% a 0,2% do produto interno bruto (pib) português. gigantes da indústria como a quiksilver ou a rip curl começaram a patrocinar em força os principais atletas portugueses. e as empresas nacionais também estão a beneficiar da moda da modalidade, que também já chegou à publicidade.
o mais conhecido campeão português, tiago pires (ou ‘saca’) protagoniza a campanha de um banco e já deu a cara por uma operadora móvel. empenhando-se em captar etapas de campeonatos importantes, até as autarquias querem aproveitar esta boa onda.
quando, em fevereiro do ano passado, a ericeira foi classificada como reserva mundial de surf – é a primeira da europa e segunda no mundo, rivalizando com malibu – pela associação save the waves, o presidente da república, cavaco silva, elogiou a distinção, defendendo que «portugal deve acarinhar a prática dos desportos náuticos pelo contributo que dão para a sua imagem no exterior». também o ex-ministro das finanças ernâni lopes aludia à notoriedade crescente e ao potencial do surf na sua abordagem ao hypercluster da economia do mar.
elite do surf na capital da onda
em peniche, que se intitula a capital da onda, esta visão é seguida à letra. a câmara municipal está a investir num centro de alto rendimento para surfistas e a apoiar a realização do rip curl pro. aquele que é o mais importante evento de surf em portugal – é uma etapa do circuito mundial que põe a competir os melhores magos da prancha do mundo na praia supertubos – decorre na vila piscatória em outubro, pelo menos até 2014. no ano passado, o retorno mediático foi de 12,3 milhões de euros e o site da prova teve 9,5 milhões de visualizações.
na nazaré, depois do canhão (um desfiladeiro submarino) ter ‘disparado’ a maior ‘parede de água’ surfada até hoje, irá acontecer o mundial de ondas grandes, em outubro. de 21 a 23 de setembro, carcavelos será palco da uma etapa do campeonato mundial de surf feminino. a linha de cascais, costa da caparica e açores são outras zonas que já receberam competições nacionais e internacionais.
«faço pranchas há 30 anos e ninguém diria que haveria surf em portugal. hoje é mundialmente conhecido, como destino bom para surfar», resume miguel katzenstein, um dos fundadores da semente, a mais antiga fabricante lusa de pranchas.