Paulo Portas, RTP e compromisso

As declarações de Paulo Portas traduzem as vicissitudes próprias de uma coligação que, por definição, integra forças políticas distintas nos seus princípios, valores e programas.

não foi só a propósito da rtp que houve eco de falta de coincidência de posições entre psd e cds. nos últimos dias, também se soube que ela acontecia a propósito da lei eleitoral autárquica. por muito que isso custe a alguns, antecipei, aqui, neste espaço, que seria muito difícil haver acordo, principalmente estando as eleições já tão pouco distantes.

as declarações de paulo portas, reafirmando a necessidade de fortalecer o espírito de compromisso da coligação são construtivas e ponderadas. são produzidas num contexto em que se trabalha para encontrar solução para as dificuldades geradas pela decisão, legítima, do tribunal constitucional.

deve ser reconhecido que, em portugal, as coligações de governo até são muito pouco pródigas em divergências públicas entre os seus membros. é um facto que vários dirigentes do cds têm feito, nos últimos tempos, intervenções críticas ou, pelo menos, cépticas em relação a algumas opções de governo ou a realidades da situação actual do país. assim tem acontecido, por exemplo, com o presidente do congresso do cds, antónio pires de lima. alguém leva a mal? claro que não! as coligações não têm de ser monocórdicas nem dogmáticas. nem os partidos o são! aliás, muitas vezes não se sabe se essas divergências são mais dirigidas ao parceiro de coligação ou ao partido que os próprios integram…

as rentrées políticas

de passos e seguro

apolítica é assim: quando passa o tempo, tudo se volta para os que estão e cada vez mais se esquece a responsabilidade de quem esteve. na verdade, já há uma parte de opções deste governo no caminho que o país tem seguido. muito, mesmo muito, vem de trás, mas há opções que são próprias deste executivo. por isso mesmo, como a execução orçamental do lado da receita não tem corrido muito bem, o tom político aqueceu.

pedro passos coelho falou de modo a deixar transparecer alguma confiança e bastante serenidade. antónio josé seguro procurou assinalar, bem, que não se deixa condicionar pelas pressões existentes no sentido de não quebrar o consenso mínimo sobre o rumo do país.

eu sou dos que querem pressionar antónio josé seguro. não o escondo: espero muito que o secretário-geral do ps e o líder do psd, também primeiro-ministro, sejam capazes de encontrar o entendimento que permita que o ps não vote contra o orçamento do estado. é essencial para portugal!

repito: em tudo aquilo que vou ouvindo, nos meus contactos profissionais, com instituições e cidadãos de outros países, o traço que normalmente sublinham para fazer a distinção em relação à grécia é o de que em portugal existe paz política e verifica-se paz social, ambas muito assinaláveis.

não é fácil derrotar aafectividade de obama

hipóteses, mitt romney e paul ryan têm. mas vai ser muito difícil vencer a afectividade de barack obama. os resultados dele, na governação, não são nada brilhantes e faltou a várias das suas grandes promessas. mas os republicanos escolheram mal o medical care como tema forte de divergência. se há algo que preocupa os norte-americanos das classes média e baixa é quem lhes acorre quando precisam de cuidados de saúde.

para mim, essas são as duas razões principais. não é só mitt romney que não é afectuoso. o candidato republicano a vice-presidente também não o é. já joe biden, o vice-presidente de barack obama, é simpático. mas conta pouco. até porque, no meio das simpatias, comete muitos erros. barack obama, em termos eleitorais, é um pouco como ronaldo ou messi: sozinho, com a sua magia, pode decidir.

estou a falar nestas questões, que parecem menos substantivas, porque noutros aspectos há alguma indefinição: a economia dos estados unidos vai crescendo, mas a crise não está nem pouco mais ou menos resolvida; os números do desemprego vão melhorando, mas o investimento não cresce como seria desejável; acabou a guerra no iraque, mas a guerra no afeganistão continua a exigir um grande esforço militar.

o mundo está à espera da europa e, neste momento, ninguém culpa muito os eua pela situação actual da crise internacional. barack obama, ao fim ao cabo, não fez nada de muito errado, mas também não conseguiu grandes achievements… por isso mesmo, estou convencido de que a arte eleitoral, a capacidade oratória, mas sobretudo a maneira como obama vai ao encontro das pessoas, e lhes dá um afectuoso abraço, pode decidir as eleições.

o slogan de barack obama poderia ser o que otelo saraiva de carvalho usou na sua candidatura à presidência da república, em 1976: ‘um amigo na presidência’. se é, não sei. não sei se será a ‘rational choice’, nem se será a ‘best choice’. é certo que mitt romney e paul ryan são pouco moderados, são pouco ao centro. mas o sistema eleitoral norte-americano ainda pode levar a uma reedição do que se passou com george w. bush e al gore, ou seja, empate técnico, impugnações e o que mais adiante se verá.

assim o admitem as sondagens.