cercados no vesúvio, os gladiadores de spartacus caem de surpresa sobre os romanos e exterminam-nos usando a sua própria artilharia – bolas de fogo lançadas por catapultas.
e em cápua, no cenário sinistro do ludus batiatus, a mansão e escola de gladiadores donde saíram os rebeldes, lucrécia, a manipuladora viúva de batiatus, ‘ressuscitada’ do primeiro massacre final, é também castigada. enlouquecida, atira-se para o abismo com o recém-nascido rebento de ilithya, a perversa mulher de glaber, filho de spartacus concebido quando o gladiador mascarado, conheceu (em sentido biblíco) a libertina patrícia.
a revolta dos gladiadores de 73-71 ac é histórica e chegou-nos através das crónicas de apiano, frontino e plutarco. marx considerava spartacus um dos seus heróis e koestler e howard fast escreveram biografias romanceadas do capitão da revolta.
baseado em fast, o grande stanley kubrick fez um filme magnífico em 1960. com kirk douglas (o protagonista), lawrence olivier (crasso, o vencedor de spartacus), charles laughton (senador) e peter ustinov que fazia um batiatus bem diferente do da série. é instrutiva a mudança de usos, costumes, percepções e visões das artes cénicas sobre a época e o acontecimento. aliás spartacus – a série – é auto-apresentada como tendo «graphic violence, strong sexual content and coarse language».
tem todos. a violência é permanente e potenciada (ou diluída) pelos efeitos especiais. há um animus de brutalidade e homicídio e um clima de grande opressão, donde só se escapa matando. o sangue salta aos borbotões das gargantas ou dos membros cortados, pelas perversas armas brancas e os esgares de ódio e dor acompanham as lutas e as torturas.
o sexo é outra nota presente, no ‘desvio’ e na banalização promíscua: glaber tem relações sexuais com ilithya, depois de excitado na presença dela pelas escravas; nos prostíbulos e nos salões há orgias explícitas; os costumes são livres e entre os ‘bons’ há relações homossexuais correntes – o gigante agron tem um romance com outro escravo, nasir.
apesar dos bons serem nobres, leais, corajosos, unidos, há um paroxismo de violência de todos e uma exposição da condição completamente dependente e desumanizada dos escravos – sujeitos ao arbítrio dos seus donos e dos servos dos seus donos. daí a revolta, que nietzsche dizia ser a ‘nobreza do escravo’. tinha razão.