são também as mulheres que parecem procurar mais a linha sos deixar de fumar (808 20 88 88). na faixa entre os 30 e os 40 anos telefonam, principalmente, «motivadas pelos filhos para deixar esta dependência», explica ao sol paulo vitória. há também quem telefone não para deixar de fumar, mas para ajudar alguém a fazê-lo.
de duas mil chamadas por ano, o que acontecia há dez anos quando a linha foi criada, passaram para 600 atendimentos, número que o responsável justifica com o aumento da oferta de outros métodos e produtos, «alguns que vivem de puro marketing». e acrescenta que não acredita que a descida se traduza numa diminuição do número de pessoas que querem deixar de fumar.
a abordagem passa sempre por uma orientação motivacional: «apoiar e reforçar a decisão de deixar de fumar». para paulo vitória o primeiro passo deve ser a própria tentativa. «o que mais influencia as pessoas a deixarem de fumar é tentarem fazê-lo sozinhas», considera. e «resulta em muitos casos». quando isso não acontece, tenta-se «uma abordagem mais intensiva, com encaminhamento para consultas específicas».
a média de idades de quem telefona são os 43 anos, «as pessoas procuram-nos ainda antes de surgirem os primeiros sintomas de doenças mais graves, e isso é positivo».
já a taxa actual de sucesso, entre os 12% e os 18% (a melhor já chegou aos 30%) pode parecer baixa, mas o especialista garante que os números portugueses estão bem colocados quando comparados com outras linhas europeias que prestam o mesmo serviço.
tabaco em segunda mão
não é só com os fumadores activos que deve existir preocupação, alerta paulo vitória, sublinhando que o fumo ambiental é considerado uma das maiores fontes de poluição das cidades. «só falamos do fumo passivo em relação às consequências a longo prazo e na diminuição da esperança média de vida», lamenta. «existem consequências imediatas». dá como exemplo a síndrome da morte súbita, vendo no tabaco um estímulo agressor que a pode provocar. «esquecemo-nos muito disto».
a opinião pode parecer extremada, mas o psicólogo tem do seu lado um estudo publicado este mês pela revista médica the lancet. a pesquisa, realizada a partir de dados de 2004, estima que cerca de 603 mil mortes desse ano tenham sido causadas por ‘fumo em segunda mão’. quase metade dos casos mortais aconteceram em mulheres e 28% foram crianças. do total de mortes, 370 mil deveram-se a doenças cardíacas, 145 mil a infecções respiratórias, quase 37 mil foram resultantes de asma e mais de 21 mil de cancro do pulmão.
o responsável lembra também que não fumar na mesma divisão onde estão as crianças, ou abrir a janela do carro para um cigarro enquanto se leva o filho à ecola não é suficiente.
«a corrente secundária de um cigarro, o fumo da ponta acesa e o que se exala não fica confinado num espaço». existe ainda uma corrente terciária do fumo que fica na pele, na roupa e no cabelo de quem fuma ou de quem frequenta espaços fechados onde se pode fumar. «partículas invisíveis condensam as subs- tâncias tóxicas do tabaco e são transferidas quando abraçamos os nossos filhos», explica.
mas não é só por estas razões que, na opinião de paulo vitória, é prejudicial ter pais fumadores. soma-se o exemplo que se dá aos filhos – que podem ver no acto de fumar uma atitude normal. e acrescenta-se a afinidade social que os fumadores têm entre si: além de estarem expostas ao fumo ‘de casa’, estas crianças ainda lidam com os amigos fumadores dos pais.
joana.andrade@sol.pt