A cara do Hezbollah no protesto anti-EUA

Seis dias e 21 países depois, o protesto parecia estar a esmorecer. Abrandou, mas poderá amanhã ganhar nova força, empurrada por alguém que não se esperava que viesse a público: o líder do Hezbollah, o grupo extremista islâmico, deu a cara pelo contra o filme anti-Islão e apelou à continuação dos protestos pelas nações árabes.

hassan nasrallah apareceu esta segunda-feira perante
milhares de pessoas que se juntaram em beirute, numa manifestação que os uniu
no protesto contra o filme a inocência
dos muçulmanos
, que retrata o profeta maomé como um assassino, abusador de
crianças e de mulheres.

«[o vídeo] é uma viragem perigosa na guerra contra o islão e
o grande profeta», foi uma das frases proferidas pelo líder. a sua mensagem junta-se
às inúmeras outras que tem surgido, mas reúne importância por ter saído da boca
de alguém que os eua consideram como o líder de uma organização terrorista.

o hezbollah é o braço armado e política dos shia, a segunda
maior comunidade de crentes no islão. com sede no líbano e apoiada militarmente
– em termos de armamento -, pelo irão, o grupo sempre se declarou um opositor
dos eua e de israel, como resumiu a cnn.

agora, quando se pensava que a onda de protestos tinha
abrandado o seu ritmo ao longo do fim-de-semana, eis que a aparição de
nasrallah lhe ameaça dar um novo ímpeto.

tudo porque as aparições públicas do líder sempre se
cingiram à raridade. a al-jazeera lembrou que esta foi apenas a quinta aparição
de nasrallah em seis anos, e a primeira desde 2008. e o líder apareceu para
lançar um aviso: «a américa tem que perceber, os eua têm que perceber que a
publicação do filme terá repercussões muito perigosas por todo o mundo».

o líder referia-se ao filme que tem estado no centro da
polémica. a revolta surgiu após a divulgação de apenas o trailer, de 14 minutos, que se encontra publicado no youtube e que
já ultrapassou os 7 milhões de visualizações.

o filme fez crescer um sentimento anti-eua e germinou uma
revolta que tem apontado sobretudo aos edifícios de embaixadas e consulados
norte-americanos em nações árabes. em alguns casos, como no sudão, as sedes
diplomáticas da alemanha e reino unido foram igualmente atacadas.

a cnn sugeriu
ainda algo que ecoará nas mentes da maioria dos seguidores do islão que se têm
protestado: o suposto aval do governo norte-americano para que o filme em causa
fosse produzido.

a razão prende-se com os regimes autoritários com os quais
milhões de muçulmanos convivem nos seus países e onde, por norma, é necessária
a autorização do governo para que qualquer tipo de filme seja produzido.

porém, os eua, pela voz do seu presidente, barack obama, já
por várias vezes reiteraram que condena a mensagem do filme. o islão proíbe
expressamente qualquer retrato ou ilustração do profeta maomé.

protestos continuam
hoje, segunda-feira, o daily telegraph
noticiou que os protestos se estenderam à indonésia –  o mais populoso país de maioria islâmica -, às
filipinas e à faixa de gaza.

no iémen, afeganistão e paquistão, a revolta voltou a ganhar
força.

na última terça-feira, recorde-se, um ataque ao consulado
norte-americano em bengazi, na líbia, matou chris stevens, o embaixador dos eua
no país, a par de outros três diplomatas.

no mesmo dia, centenas de manifestantes irromperam pela
embaixada norte-americana no cairo, capital do egipto, e rodeara a sua
congénere em tunis, capital tunisina.

diogo.pombo@sol.pt