basta recordar a história.
em 2004, o fc porto espantava a europa com a conquista da
liga dos campeões, depois de vencer a taça uefa na época anterior. poucas
semanas depois, era mourinho que surpreendia, ao confirmar a sua saída para o
chelsea após duas épocas nos ‘dragões’. antes, ainda fizera os últimos meses
da temporada 2001/2002.
em londres, o técnico vence dois campeonatos mas cai nas
meias-finais da ‘champions’ à segunda tentativa. não cumpre o sonho de roman
abramovich, milionário proprietário do clube. ainda começa a terceira
temporada, mas os resultados e algumas discussões com responsáveis dos ‘blues’
motivam o russo a despedi-lo. pára um ano.
regressa em 2008, ao inter de milão. mais um campeonato, no
primeiro ano, outro no segundo, onde se destaca ao vencer a liga dos campeões.
o real madrid já lhe piscava o olho, e o português piscou o seu de volta.
afinal, tudo se compusera: tinha a oportunidade de, uma vez mais, sair de um clube envolto
em glória. assim o fez.
começava a aventura nos ‘merengues’. o desafio prometia –
mourinho iria defrontar a que muitos consideravam como a melhor equipa do
mundo, o barcelona de pep guardiola. a primeira época confirmou as
dificuldades. o real terminou em segundo, perdeu todos os duelos com o rival na
liga, venceu apenas a copa do rey e viu os ‘blaugrana’ acabarem o seu périplo
europeu com a liga dos campeões.
a época transacta, a segunda tentativa de mourinho em
madrid, terminou com a conquista da liga e, pelo caminho, com uma vitória simbólica em camp nou,
terreno do barcelona, que decidiu o campeonato. na ‘champions’, voltou a cair
nas meias-finais, frente ao bayern de munique, numa lotaria nas grandes penalidades que não o favoreceu.
os objectivos para este ano, eram claros: cimentar a
supremacia no campeonato, numa liga que muitos resumem ao duelo entre estes dois
rivais, e ir em busca da décima taça da liga dos campeões para a lista de
troféus do real madrid. mas esta travessia está a começar com tropeções.
os problemas
um empate, duas derrotas e uma vitória são o que resta dos quatros encontros já
disputados pelo real no campeonato. ainda antes de começar a defender o título,
mourinho deixara sinais na imprensa, avisando a sua equipa para os perigos
que podiam advir se encarassem a época com falta de motivação.
os treinadores têm o hábito de retirar a pressão aos seus
jogadores. uma das formas de o fazer é dizendo que, na hora das derrotas, as
culpas serão sempre suas, do técnico. «o responsável por este péssimo início de
temporada sou eu», voltou a sublinhar mourinho, ao desportivo marca, após a derrota de sábado (1-0),
na visita a sevilha.
à excepção da vitória caseira sobre o granada – uma das
equipas mais fracas da liga espanhola -, os ‘merengues’ voltaram a mostrar os
mesmos problemas no jogo com os sevilhanos que já tinham evidenciado no
empate com o valência, e na derrota com o getafe: uma equipa lenta e previsível, quando tem durante muito tempo a posse de bola, e a tem de usar para atacar
continuadamente, em progressão para a baliza adversária.
em quatro partidas marcou cinco golos, um registo tímido que mais tímido fica por se repartir apenas entre dois jogadores, cristiano
ronaldo (dois) e gonzalo higuaín (três).
muito se discute sobre o que se passará na mente dos
jogadores. mais à vista está o que falha no relvado – o contra-ataque. a fórmula
que tantos elogios mereceu a época passada não está a ser aplicada esta
temporada e que muito ajudou aos 121 golos com que a equipa terminou o anterior campeonato. os jogadores do real madrid tentam, mas a diferença agora está nos adversários.
o vício no
contra-ataque
na época passada, o real montava sempre a mesma armadilha. juntava-se a defender,
não pressionava em demasia os adversários, e com isto os incentivava a atacar,
a explorarem a sensação de que poderiam com facilidade chegar à baliza de
casillas. assim que passavam a linha do meio campo, os ‘merengues’ apertavam o
cerco à bola, começavam a pressionar o adversário e, quando recuperavam a posse de
bola, lançavam rápidos contra-ataques que eram finalizados com uma eficácia que
impressionava.
a diferença, agora, está na armadilha que os adversários
também usam.
agora, esperam que seja o real a pressionar, que venha atrás
da bola para lá do seu meio campo, convidam à pressão alta ‘merengue’. assim, duas coisas podem acontecer: o adversário
consegue ultrapassar a pressão alta dos ‘merengues’ e parte para o ataque, com
mais espaços para explorar; ou o real recupera a bola, sim, mas tem que
aproveitá-la atacando com calma e com muitos jogadores à sua frente. não pode
atirar-se para o contra ataque que tão bem aperfeiçoou no passado.
os adversários não caem na tentação armadilhada, e o real
não consegue fazer o que mais gosta e, talvez, o que mais treina. o diário el país, abordando a recente crise de
resultados da equipa de mourinho, citou, embora sem os identificar, alguns
jogadores madridistas que sublinham a inaptidão da equipa em atacar equipas que
defendem atrás e que dão a iniciativa de jogo aos ‘merengues’.
«quando os rivais nos esperam, mourinho não sabe dar
soluções à equipa. ocupamos os mesmos espaços, estorvamo-nos uns aos outros,
não nos sabemos movimentar», terá dito um qualquer jogador do real madrid, que
o diário espanhol não identifica. verdade ou não, o certo é que, em campo, é
esta a impressão que passa.
«na próxima temporada, se ele continuar, o clube terá que
mudar metade do plantel». esta foi outra das frases citadas, essa sim talvez a
mais grave e sugestiva, ao falar de alegadas tensões entre o treinador
português e alguns jogadores. «apenas duas ou três cabeças não estão como as
outras», disse o português, após o jogo de sevilha. ao intervalo, «queria
substituir sete ou oito jogadores».
estando ou não ao lado de josé mourinho, nota-se que o real
madrid está diferente, menos dominador, falta-lhe a ambição da época passada,
onde a vontade de suplantar o barcelona alimentava todos os jogos.
e essa vontade, alimentada por o que quer que seja, será
necessária já amanhã, terça-feira. o real madrid recebe o manchester city, o
novo-rico inglês que quererá surpreender os espanhóis já na primeira jornada da
fase de grupos da liga dos campeões.