Cenas da Vida Conjugal, a peça de Bergman no D. Maria

João e Mariana são aparentemente felizes. Estão casados há dez anos, têm duas filhas, bons empregos – ela é advogada, ele professor –, estabilidade, segurança. Mas algo está profundamente podre no ideal burguês asfixiante em que vivem. É nessa podridão que se vai entrar – depois de o verniz estalar na sequência de uma ida…

escrita por ingmar bergman em 1973, cenas da vida conjugal começou por ser uma mini-série de televisão de seis horas. protagonizada por liv ullman (com quem o realizador viveu cinco anos), a história – que mais tarde bergman adaptou ao cinema e ao teatro – ficou conhecida por ser baseada na relação de ambos. e deu grande polémica por, no ano que se seguiu à sua transmissão, o número de divórcios na suécia ter aumentado exponencialmente.

não é novidade que as guerras conjugais burguesas são das mais mortíferas que se podem travar. há menos de um ano, no mesmo palco, maria joão luís e virgílio castelo digladiaram-se em quem tem medo de virginia woolf?, de edward albee. agora é a vez de margarida marinho e adriano luz se enfrentarem, cortando e dissecando com brutalidade e sadomasoquismo este casamento tão típico que faz com que o que bergman escreveu há quase 40 anos permaneça actual.

e se o palco do d. maria ii se transformou numa arena conjugal, não se pense que a plateia fica imune. a peça é um espelho. nem todos terão coragem para se olhar. o verniz estalou com ibsen. também pode estalar com bergman. não aconselhável a casais em terapia conjugal.

rita.freire@sol.pt