Sporting e o tudo arriscar para vencer (2-1)

Risco, desorganização e a Lei de Murphy. Confusão? Sim, e no relvado também. O Sporting chegou à primeira vitória no campeonato diante do Gil Vicente, num encontro onde Ricardo Sá Pinto tudo arriscou, baralhou, mas também superou as muitas coisas que correram mal pelo caminho.

não muitas vezes na sua história o gil vicente chegara a alvalade a olhar o sporting de cima, na escada da classificação: os leões sentavam-se no 14.º posto, duas posições abaixo dos gilistas, que detinham esta vantagem mesmo sem terem marcado ainda qualquer golo no campeonato.

o sporting, com o seu solitário golo na madeira, diante do marítimo, também não fizera muito melhor. em resultados, chegava a este encontro com dois empates e uma derrota, que somados lhe davam os quatro pontos. com o desagrado de adeptos à mistura, o momento era delicado – a equipa, e ricardo sá pinto, precisavam de uma vitória.

e o treinador juntou 11 nomes para os juntar nesse objectivo. o sporting iniciou a partida com wolfswinkel, capel, pranjic, izmailov e viola (que se estreou) todos no relvado, e com apenas rinaudo como um jogador dedicado mais a defender a sua baliza do que atacar a contrária. se a postura já era de risco, mais arrojada ficou com a opção de alternar a posição dos jogadores em campo, com os leões a se disporem em 4x4x2, ao invés do habitual 4x3x3.

a lei de murphy
a fórmula era arriscada, mas o objectivo assim o imperava. de facto, nos primeiros cinco minutos, os leões mostraram vontade em marcar golos cedo.

a equipa lançava-se para a frente, com capel e pranjic à espera da bola juntos às linhas laterais, deixando que viola e izmailov, ao centro, trocassem passes curtos e assim atraíssem adversários para essas zonas, com vista a libertar espaço para depois enviar a bola para as alas.

atrás ficava rinaudo, que regressava à competição sete meses volvidos, como fechadura de uma porta que se abria ao mínimo empurrão. e tal ficou provado quando, aos sete minutos, na primeira vez que o gil se lançara num contra-ataque, os visitantes se colocassem em vantagem, graças a um golo de luiz carlos.

pouco antes, capel e pranjic desperdiçaram duas oportunidades para marcar. no golo dos gilistas, luiz carlos dominou a bola com o queixo. até ao intervalo, uma bola enviada por viola à barra adversária e outras tantas hipóteses de golo falhadas. «quando algo puder correr mal, certamente correrá», lembrar-se-iam porventura os adeptos leoninos, recordando a lei de murphy, que se popularizou no dia-a-dia popular. em alvalade, a lei rondava os leões no relvado.

os problemas
o sporting chegou ao intervalo com 72% de posse de bola, uma estatística que não escondeu alguns problemas.

a desorganização era por vezes evidente. a opção pelos passes pelo ar, vindos da defesa, começou a ser frequente após o golo do gil. a equipa tinha sempre cinco jogadores perto da área adversária, mas o risco estava mais a defender – os leões conseguiam cercar o adversário quando perdiam a bola no ataque, mas, caso os gilistas conseguissem ultrapassar essa imediata pressão alta, o sporting tinham vários buracos por explorar no seu meio campo.

à hora de jogo, sá pinto voltava a baralhar as cartas. xandão saiu de campo para entrar andré carrillo, recuava rinaudo para ladear rojo no centro da defesa, e o meio campo ficava apenas nos pés e no folêgo de izmailov, russo cuja resistência e físico não costumam superar muito os 60 minutos de jogo. partia-se assim um jogo leonino que já pouco de organização tinha. o risco e necessidade de vencer assim o obrigavam.

muita gente estava na frente, mas o perigo para a baliza de adriano era pouco. a explicação, será simples: sem organização, de pouco vale colocar muitos jogadores a atacar.

até que, muitos cruzamentos e remates depois, o sporting igualou. aos 75 minutos, uma bola vinda de ínsua chegava ao pé de capel, que, já dentro da área, a encostou para a baliza. agora sim, era tempo de atacar e tudo arriscar.

o alívio
o gil era quase inexistente no ataque, unia-se apenas a defender. o sporting, mais do que nunca, tudo tentava e atacava, mais em esforço do que em pensamento coordenado.

só aos tardios 86 minutos é que os leões chegaram, finalmente, à vantagem. mais um cruzamento, agora de cédric, encontrou van wolfswinkel na área, ao primeiro poste. segundo golo consecutivo do holandês no campeonato, um golo de alívio e festa que uniu a equipa.

agora, fulcral era a organização que o sporting quase nunca tivera. porém, pela frente estava um gil vicente que quase nunca conseguira construir uma jogada que fizesse chegar a bola à baliza de rui patrício – terminou o jogo com dois remates.

por último, de novo, a tal lei de murphy. já quase no final da partida, o marroquino labyad foi expulso, ao ver o segundo cartão amarelo, ele que entrara em jogo ainda antes do intervalo.

sim, mais um aspecto que correu mal. mas, no fim, impera o positivo: o sporting alcançou a primeira vitória da época no campeonato, e resta esperar para ver se a equipa se ‘libertou’ da letargia que a invadira nos encontros anteriores.

diogo.pombo@sol.pt