O horror sírio aos olhos das crianças

Crianças sírias ouvidas pela organização britânica Save the Children desenham um dos cenários mais negros da guerra civil: a guerra exposta aos olhos de uma criança. Choques eléctricos, queimaduras com cigarros, mutilações, morte dos pais, irmãos e outras crianças são alguns dos horrores que estes jovens garantem ter vivido ou testemunhado. A Save the Children…

no relatório ‘atrocidades nunca contadas – as histórias das crianças sírias’ constam testemunhos de crianças entre os 9 e os 17 anos que conseguiram fugir para um campo de refugiados na fronteira da jordânia. os pais de algumas delas também foram ouvidos. o objectivo, escreve a organização, é «dar voz às vítimas silenciosas da guerra civil que se trava na síria».

«rapazes e raparigas continuam a morrer, a ser mutilados e torturados. estas violações pavorosas contra as crianças têm de acabar e os que as movem têm de ser responsabilizados». este é o mote do mais recente relatório da organização britânica, que diz estar em linha com as violações documentadas pela amnistia internacional e pelo observatório dos direitos humanos das nações unidas nos últimos meses.

«estava num funeral quando ouvi uma explosão a que se seguiu um massacre. o chão estava cheio de corpos e pessoas feridas, e até encontrei partes de corpos espalhadas», descreve hassan, de 14 anos.

já wael, de 16 anos, conta a história de um menino que conheceu chamado ala’a. «ele tinha apenas seis anos. não compreendia o que se estava a passar. eu diria que aquele rapaz de seis anos foi torturado mais do que qualquer pessoa que estava naquela sala. não tinha comida nem água há mais de três dias e estava tão fraco que estava sempre a desmaiar. batiam-lhe regularmente. eu vi-o morrer. sobreviveu por três dias e depois simplesmente morreu», descreve wael.

no relatório que hoje divulga, a save the children afirma que a grande maioria das crianças com quem falou viu pelo menos um familiar ser morto. todas descrevem atrocidades, massacres e sessões de tortura que testemunharam ou sentiram na pele. além de querer contar ao mundo o que se passa em território sírio, o apelo é claro: mais recursos para garantir maior presença da onu no terreno, de forma a reportar as atrocidades, proteger as vítimas e finalmente julgar os responsáveis.

mas em mais de um ano e meio de confrontos, não há quaisquer sinais da luz ao fundo do túnel. ontem, o enviado especial da onu e da liga árabe, lakhdar brahimi (que substituiu kofi annan na função), descreveu a guerra que se vive na síria como «extremamente grave e a piorar».

desde que o conflito entre as forças do regime de bashar al-assad e a oposição rebelde do exército livre da síria começou há 18 meses, as nações unidas estimam que mais de 20 mil pessoas tenham morrido. os números não são precisos, dada a dificuldade na contagem e na monitorização da situação. activistas falam em mais de 30 mil mortes.

rita.dinis@sol.pt