Os problemas onde Sá Pinto terá que procurar a solução

O Sporting, finalmente, venceu com Sá Pinto nesta edição do campeonato. Uma vitória arrancado a custo, onde o risco e vontade superou o rigor e organização que tanto prendiam a equipa a redes tácticas que tornavam o seu futebol sonolento e, sobretudo, incapaz de mostrar resultados. Ontem mostrou-os, mas os ‘leões’ atacaram em força na…

a táctica era arrojada. o treinador passou de um estático
4x3x3, com dois médios quase de braços dados à frente da defesa, por um 4x1x3x2
que, no ataque, mais parecia um 4x2x4 que deixou um rinaudo esforçado, mas com
uma paragem de sete meses nas pernas, como o solitário guarda da defesa.

o que se viu, resume-se de maneira simples. um sporting com
muitos jogadores na frente, próximos da área adversária, ou seja, com mais
opções de passe nas saídas para o ataque e também com maior dinamismo, face à rapidez
com que trocavam de posições e se movimentavam, ordens que, em jogos anteriores, sá pinto
não tinha dado aos seus jogadores.

wolfswinkel ficava com viola a seu lado, com o argentino a
fugir do centro do ataque para uma das alas – preferencialmente para a esquerda
– quando a equipa ultrapassava a linha do meio campo, tentando arrastar consigo
a marcação de um central adversário, ou com vista a criar situações de dois
contra um no corredor. o avançado holandês beneficiou da companhia no ataque,
pois assim deixou de ser a única referência para a defesa adversária, e as suas
desmarcações deixaram de ser infrutíferas como até então estavam a ser.

nos extremos, capel e pranjic (depois labyad), encostavam às
laterais para dar profundidade às opções de passe, a bolas que vinham dos pés
de izmailov, russo que foi atirado para o lado, ou melhor, para a frente de
rinaudo. resultado: muita posse de bola, muitos cruzamentos e muitas tentativas
de remate à baliza contrária. no ataque, a equipa rejuvenescia. porém, tudo parecia desorganizado.

aqui começavam os problemas.

tanta gente na frente, é verdade, dava ao sporting a
capacidade de pressionar alto logo no momento em que perdia a posse de bola. o
objectivo era montar cercos aos adversários bem perto da grande área contrária.
porém, essa zona de pressão, além de ser a primeira, seria mesmo a única. caso
a conseguisse ultrapassar, o gil tinha um amplo espaço por explorar, pois
restava apenas rinaudo para cobrir 30 metros de campo em contra ataques
adversários.

a atacar, a largura dada pelos extremos colidia quase sempre
com as subidas dos defesas laterais da equipa. inapto tanto a insua como cédric
está a apetência para subir e acompanhar os movimentos atacantes da equipa,
mas, com capel e labyad sempre à sua frente, apenas facilitavam a tarefa dos
extremos adversários, que só tinham de recuar assim que perdessem a bola, face
a esta movimentação que cedo se tornou previsível.

para que tal não acontecesse, os extremos do sporting teriam
que movimentar-se para o centro quando não tinham a bola, para abrir espaços no
corredor para a subida dos laterais.

problemas para os quais as soluções chegarão com tempo, e
treino. sá pinto apostou no risco para arrancar a primeira vitória na liga, mas
terá agora que insistir no treino para que a equipe crie rotinas a defender e
se mecanize para fechar espaços assim que perder a bola. a não ser que opte por
regressar ao 4x3x3, onde teria que abdicar da dupla de jogadores à frente da
defesa, demasiado estáticos e inoperantes a atacar nos primeiros jogos da
época.

o encontro diante do gil vicente serviu para tornar a equipa
entusiasmante a atacar, mais preocupante a defender. só a incapacidade dos
gilistas – que ainda não tinham marcado qualquer golo no campeonato -, fez com
que as fragilidades dos ‘leões’ sem bola tivessem originado mais consequências.

a vitória trouxe algum alívio e poderá oferecer moral à
equipa. mas não poupará trabalho. a mudança táctica obrigará sá pinto a
dinamizar uma equipa que no último mês se revelou demasiado mecanizada em peças
que, tal como um motor, cumpriam a sua função com vist sempre ao mesmo fim.

esse fim estava, até ontem, a desiludir. agora, sá pinto tem
um puzzle de problemas para solucionar, mas descobriu um esquema táctico que,
trabalhado, poderá tornar dinâmico um sporting demasiado sonolento.

diogo.pombo@sol.pt