a capa cumpre o seu propósito: chama, e muito, a atenção.
crucificado numa cruz de madeira, e tudo sob um fundo negro, a fotomontagem
retrata neymar com os olhos e cabeça virados para o céu, com apenas um trapo a
cobri-lo e até com uma ferida aberta no seu peito.
o retrato em tudo se pretende assemelhar à icónica imagem da
crucificação de jesus cristo que integra a religião cristã. a justificação,
está nos relvados e na imprensa.
o extremo brasileiro do santos é acusado de cair com
demasiada facilidade sempre que é tocado pelos adversários. esta é apenas uma
de muitas críticas que têm sido disparadas. até pele, alcunhado de rei no
brasil, já disse que «joga mais para a televisão do que para a equipa». outra
delas acusa o jogador de não mostrar exibições de tão ou melhor qualidade na
selecção canarinha como as que mostra ao serviço do clube do estado de são
paulo.
aqui, contudo, há que apontar diferenças – no santos, neymar
é a estrela, o jogador que atrai atenções, o extremo que, encostado na ala
esquerda, os seus companheiros sempre procuram quando a equipa precisa de criar
perigo no ataque ou soltar-se da pressão adversária. saliente-se, é por norma
dos seus pés que vem o perigo atacante da equipa.
com a recente saída de ganso, para o rival são paulo, saiu
da equipa a outra grande jovem estrela, embora tivesse já um extenso historial
de lesões. como tal, ainda mais holofotes se acenderam e caíram sobre neymar. a
placar considera-o agora um bode expiatório num «desporto que todos jogam
sujo».
as palavras vieram do seu director, sérgio xavier, que em
comunicado reagiu às críticas que a capa fez brotar, mais focadas na conotação
religiosa da imagem. «pedimos desculpa a quem se sentiu ofendido. vale dizer
que a crucificação é um método histórico de execução pública», explicou. é
parecido, pois neymar tem por estes dias visto a sua reputação a ser executada
pelos rivais e a imprensa.
vários adversários já criticaram o jogador por se mandar
para o chão. tite, técnico do corinthians, disse em agosto que neymar «era um
mau exemplo para os jovens». daí à alcunha de ‘cai-cai’ foi um passo,
prontamente dado pela imprensa desportiva do país.
«ele está levando culpa por algo que acontece sempre no futebol
brasileiro, como o agarra-agarra [puxões de camisolas] na marcação de um
canto», exemplificou depois xavier, antes de condenar o que considerou ser «uma
inversão de valores», ao condenar o aumento das críticas a neymar, «o jogador
mais importante do brasil, que também é o mais marcado e o que recebe mais
faltas».
ontem, neymar conquistou o seu sexto título com o santos, ao vencer a recopa sul-americana, uma espécie de super taça da américa do sul, que se disputa entre os vencedores da taça dos libertadores e da taça sul-americana, as duas maiores competições de clubes do continente. na final, a duas mãos, o clube brasileiro venceu o universidad do chile.
quem já sofreu acusações semelhantes foi cristiano ronaldo,
durante os seus primeiros anos em inglaterra, quando se transferiu, em 2002, do
sporting para o manchester united. porém, nada chegou ao ponto de uma revista o
‘crucificar’ na sua capa.