Rent-a-car afunda sector automóvel

A renovação mais tardia das frotas e a queda para um terço no número de automóveis habitualmente adquiridos pelas empresas de rent-a-car está a agudizar a quebra já histórica das vendas de automóveis em Portugal. O sector está a viver o pior ano das últimas duas décadas no país.

as empresas de aluguer automóvel são uma peça fundamental no negócio das marcas no mercado português. são, não só, o seu maior cliente, como representam, em média, 30% das suas vendas. porém – com a recessão económica e um crescimento menor no número de turistas estrangeiros este ano – as rent-a-car estão a adiar compras, bem como a adquirir menos viaturas, o que está a agravar a diminuição nas vendas do sector, já penalizado pela fuga dos clientes particulares devido à austeridade.

entre janeiro e agosto, a vendas de veículos ligeiros de passageiros caíram em portugal 40,4% face ao período homólogo de 2011, seis vezes a descida média na zona euro.

menos turistas

a crise no rent-a-car é explicada pela associação do sector. «as frotas das empresas de aluguer eram renovadas todos os anos. hoje, essa renovação está ser feita a cada dois anos ou mais», diz ao sol joaquim robalo de almeida, secretário-geral da associação dos industriais de aluguer de automóveis sem condutor (arac). o responsável lembra ainda a forte quebra nas compras às marcas: «em julho, que é um mês forte na compra de viaturas pelos rent-a-car, o sector adquiriu 2,6 mil automóveis, cerca de um terço dos sete mil que costumava adquirir”.

 a desaceleração no número de turistas estrangeiros em portugal – os principais clientes do rent-a-car em portugal – veio agravar ainda mais a situação. a frota disponível das companhias de aluguer em julho foi 17% inferior à que existia um ano antes, revela a arac.

a quebra neste negócio espelha o que se passa em todo o sector automóvel, que vive uma queda nas vendas de veículos novos e usados – nunca antes vista desde a liberalização do sector nos anos 80 –, e que está a arrastar para a falência milhares de concessionários, oficinas e outros serviços.

«é o descalabro do sector automóvel em portugal», descreve ao sol o secretário-geral da associação nacional das empresas do comércio e da reparação automóvel (anecra). neves da silva alerta que, só em 2012, vão fechar mais de 2.500 empresas, entre oficinas e stands de usados – cerca de 30% do total.

o ‘descalabro’ referido por neves da silva revela-se nos números oficiais. em agosto, venderam-se em portugal apenas 5,4 mil automóveis ligeiros, 40% menos que no mês homólogo e menos de metade dos entregues dois anos antes (11 mil unidades).

contas feitas, com cerca de 1.500 concessionários de viaturas novas, uma média de vendas de três a quatro automóveis por stand, este volume de vendas torna o sobrevivência de muitos deles impossível, adianta neves da silva.

concessionários fecham

o secretário-geral da acap – associação automóvel de portugal, hélder pedro, confirma ao sol que vários concessionários terão de fechar e que ninguém esperava um 2012 tão ‘negro’. se este ano será o pior das últimas duas décadas, o próximo será certamente «semelhante ou pior», antecipa hélder pedro.

a dimensão do impacto da crise da zona euro no sector automóvel português só se compara com o verificado na grécia, onde também a venda de ligeiros recuou 42% entre janeiro e agosto deste ano, segundo dados da associação de construtores automóvel europeia.

 as descidas de 40% nas vendas nos dois países resgatados pela troika são cerca de 6 vezes superiores à média da zona euro (diminuição de 7,6%) e quase quatro vezes a queda registada no mercado irlandês (menos 12,1%).

luis.goncalves@sol.pt