jorge jesus, treinador dos ‘encarnados’, foi pronto a
desmontar qualquer ilusão – a bola será, como sempre é, do barcelona.
«se disserem que vão dividir o jogo com o barça, é mentira»,
esclareceu. o normal é que, durante a hora e meia de futebol, a bola passe mais
tempo entre os pés dos catalães, alimentados pela fome inacabável por a manter
em sua posse, vinda de uma mentalidade que se ensina aos jovens nas escolas do clube ainda
antes de estes pisarem um relvado.
e os catalães usam-na com passes constantes e rápidos, por vezes até entre jogadores que estão a um mero metro de distância, só para a fazer mexer. adormecem o adversário, iludem-no com os desenhos que a bola vai escrevendo no relvado, fazem-no crer que tudo está calmo, antes de acelerarem a bola até às alas e depois em direcção à baliza. nos últimos anos, os espanhóis falam de tudo isto usando a expressão ‘tiki-taka’.
por isso, quem hoje enfrenta o barcelona, costuma
encolher-se a uma estratégia de contenção, de paciência, de fechar espaços no
seu meio campo e espreitar oportunidades no contra-ataque.
assim o fez o real madrid, por exemplo, na vitória em pleno
camp nou que o empurrou em definitivo para a conquista da liga espanhola.
durante dois anos, josé mourinho especializou os ‘merengues’ no contra-ataque, rápido e
eficaz, para furar uma equipa que, por vezes, confiava em demasia na sua posse
de bola e, sobretudo, confiava que não a perderia facilmente.
mas o real pressiona forte, monta e cerra cercos tão rápido
como os desmobiliza para outras zonas de campo.
o benfica de hoje, porém, não
tem um jogador que lhe permita sequer tentar tal estratégia, principalmente após
a fuga de axel witsel para a rússia, que arrancou à equipa um barómetro que
geria as alturas em que se tinha, ou não, de pressionar os adversários, e que media a velocidade com que a equipa partia para o ataque.
nessa posição está agora enzo pérez, um extremo adaptado ao
centro, que tem impressionado pela forma como tem cumprido as funções. mas, com
26 anos cumpridos encostado a uma faixa, não tem os hábitos nem a cabeça
formatada para, em apenas um mês, chegar à estabilidade que witsel garantia.
em glasgow, há duas semanas, contudo, saiu com nota positiva do que foi até agora o seu mais árduo teste. num relvado escocês onde se luta mais do que se joga,
o argentino conseguiu aguentar o meio campo com matic e aproveitou a
presença de pablo aimar, à sua frente, para conseguir que a equipa saísse
várias vezes em ataques rápidos com a bola pelo chão.
resta saber se, hoje, jorge jesus optará por colocar aimar
no meio campo ou manter lima e rodrigo como a dupla de pontas de lança. qualquer
uma das opções garante velocidade à equipa, quer pelas pernas dos dois
avançados, ou pelo pensamento e imaginação do argentino.
se tiver aimar à sua
frente, pérez terá menos espaço para cobrir e um jogador mais perto de si, para
trocar a bola quando o benfica a recuperar.
«em ataque posicional, o barcelona é a melhor equipa do
mundo», explicou jesus, na antevisão da partida. de facto, os catalães atacam
com um bloco onde, lá dentro, todos os jogadores se movimentam e trocam de
posições. o ponto fraco será na defesa, onde carles puyol está em dúvida, e
onde no centro tito vilanova tem optado por colocar javier mascherano e alex
song, dois médios defensivos de origem. à direita, daniel alves tende a deixar
espaço aberto e vários metros por explorar nas suas costas, caso roubem a bola
à equipa perto da área adversária.
xavi, um dos capitães do barcelona, quis retirar algum
favoritismo que pende para o lado da sua equipa, ao avisar que o estádio da luz «é, porventura,
o campo mais difícil», evocando que «a história diz que o benfica é o adversário
mais poderoso».
em títulos será certamente. resta prová-lo hoje em campo
(19h45, tvi), e surpreender a um barcelona que nunca regressou com a vitória de
uma visita aos ‘encarnados’ – em 2006, as equipas empataram sem golos na
caminhada do barça de ronaldinho e deco rumo à conquista da ‘champions’.