IRS paga a crise

Os mais ricos vão pagar mais impostos e a classe média também. O CDS vai aceitar as medidas, mas vai pressionar até ao fim com cortes na despesa que mitiguem o esforço fiscal. As reuniões no Governo são diárias.

pouco menos de um subsídio para os trabalhadores do privado e um pouco menos de dois para os funcionários públicos e para os pensionistas. 
este é o resultado mínimo estimado da fórmula revelada ontem pelo governo para substituir as alterações à taxa social única (tsu) e o chumbo do corte de dois subsídios à função pública pelo tribunal constitucional, e para  cumprir as metas orçamentais de  2013. o esforço será, de todo o modo, mais distribuído do que com a tsu, respeitando as diferenças de rendimentos. os mais ricos terão, assim, um esforço multiplicado.
politicamente, a solução reabriu a tensão pública com o cds de paulo portas. segundo apurou o sol, o voto do segundo partido da coligação não está em causa no orçamento («nós cumprimos», diz apenas uma fonte da direcção), mas o seu guião continua a ser o de pressionar ao máximo para que os cortes na despesa que ainda estão a ser trabalhados possam diminuir um pouco os impostos anunciados.  
sobre esses cortes, o ministro das finanças nada disse. «vão ser reuniões diárias», admitia ontem fonte centrista. a única reacção oficial, ontem, foi do deputado hélder amaral, que disse estar «preocupado». segundo apurou o sol, houve ministros – e não apenas os centristas – a mostrar sintonia com o objectivo. mas os resultados só se verão na próxima semana.
do lado da oposição, a crítica foi  generalizada. o ps foi veemente, com o deputado pedro marques a lamentar «o aprofundamento do buraco a que o governo conduziu o país, com um aumento brutal do irs», sem melhoria para os privados. e tirando «aos funcionários públicos com uma mão o que parece dar com a outra».
pedro marques reiterou o voto contra dos socialistas no orçamento do estado (oe). em aberto fica o pedido de fiscalização da constitucionalidade das medidas: primeiro, serão analisadas «em detalhe». mas ontem já havia quem entrasse nesse campo –  como a associação sindical dos juízes, que apelou ao presidente para que faça um pedido de fiscalização ao tribunal constitucional.
luis.goncalves@sol.pt
* com david dinis