o ataque a akcakale, situada a cerca de 50 quilómetros da
fronteira com a síria, não foi inédito em termos de efeitos colaterais que a crise síria tenha causado na turquia.
a cnn recordou
que, em junho, a artilharia síria abateu um jacto turco e os dois pilotos que
seguiam a bordo e, dois meses antes, em abril, duas pessoas morreram na
fronteira turca à custa de ‘balas perdidas’ vindas da síria. além de ter sido o
mais mortífero, o ataque que ontem atingiu akcakale foi a gota de água para o
executivo turco.
esta quinta-feira, o parlamento reuniu-se em ankara e
autorizou – o ‘sim’ reuniu 320 deputados, contra os 129 que votaram contra – o início
das operações militares contra a síria. ainda antes do voto parlamentar, as
tropas turcas tinham já iniciado bombardeamentos em tall al-abyad, localidade
situada cerca de 10 quilómetros para lá da fronteira.
no rescaldo da decisão, recep tayip erdogan,
primeiro-ministro, sublinhou que o país «não está interessado em iniciar uma guerra com a
síria», classificando antes a acção militar como «um aviso» para o regime
de damasco, liderado por bashar al-assad. «mas a turquia é capaz de proteger as
suas fronteiras e se for necessário vai retaliar», avisou, contudo, de acordo
com a al-jazeera.
um cenário de guerra e subsequente germinar de um conflito
regional, contudo, tem sido afastado.
o the guardian,
citando um especialista em assuntos do médio oriente da universidade norte-americana
de georgetown, referiu que será necessário mais do que um bombardeamento numa
cidade fronteiriça para provocar um conflito entre as duas nações.
«a turquia tinha que responder de alguma maneira, o governo
precisa de ser encarado como forte quando sangue turco é derramado (…).
optou-se por um bombardeamento, e não por um ataque aéreo, pois há uma linha
ténue que separa uma acção limitada de uma confusão territorial com a síria»,
explicou michael koplow.
de facto, a tomada de posição turca não surgiu sem antes o governo
de erdogan ter apelado à nato por uma «acção necessária» para cessar a «agressão
síria». o conselho de segurança do organismo, do qual a turquia é membro, já se
reuniu de emergência.
outro dos fortes opositores ao escalar de um conflito é a
rússia. o país é um velho aliado da síria e, pela voz de sergei lavrov, o seu ministro dos negócios estrangeiros, sublinhou que «as autoridades sírias
garantiram que o que se passou na fronteira foi um trágico acidente», antes de revelar o que, para moscovo, é fulcral – a oficialização de um pedido
de desculpas.
até agora, os responsáveis sírios apenas lamentaram o ataque
e expressaram as suas condolências pelas vítimas turcas.
desde o início do conflito interno na síria, em março de
2011, que a turquia já acolheu oficialmente mais de 90 mil sírios em campos de
refugiados junto à fronteira com o país, embora o governo estime que mais de 40
mil estejam ainda espalhados pelo seu território.