Outra vez

Uma estudante do primeiro ano do curso de Gestão de Empresas da Escola Superior de Tecnologia e Gestão de Beja está no hospital em estado considerado crítico depois de ter sido sujeita à praxe académica.

das várias notícias que saíram sobre o caso, ficamos com dúvidas sobre o que se terá passado. há a possibilidade de a rapariga sofrer de um problema cardíaco, que só se terá manifestado agora, logo precisamente na semana da praxe, maldito infortúnio. pode acontecer chegarmos à conclusão de que foi um acaso infeliz que pôs a aluna no hospital. mas é verdade que todos os anos somos confrontados com praxes que correm mal. resta saber até que ponto será tolerável manter uma tradição que se baseia na pressão e na humilhação do próximo, condição mais que suficiente para despertar doenças que o próprio praxado e a sua família desconheciam. só pergunto se vai ter de morrer alguém para acabarem de vez com as praxes.

pé de salsa

todd akin – que ainda há pouco tempo defendeu que as mulheres violadas também não engravidavam assim tanto como se pensava, por isso não tinham nada que abortar se tal acontecesse – fez uma observação bastante desagradável que está a ser usada contra ele. numa entrevista, akin disse que, num debate recente, a senadora democrata do missouri, claire mccaskill, tinha tido um comportamento «pouco adequado a uma senhora», demasiado agressivo, mais do que há seis anos. o comentário de queixume machista fez as delícias das colunistas feministas do guardian, que trataram o candidato republicano como uma carcaça de veado, partilhada por leoas. o comentário revela que todd akin de cavalheiro nada tem, como, aliás, não é surpresa. ainda por cima, não conhece os versos de alexandre o’neill: «mas uma senhora é uma senhora./ só vê a malícia quem a tem./ uma senhora passa/ e ladrar é o seu dever – se tanto for preciso!».

imprescindível

para mim foi uma novidade, mas não me admirava se fosse a última a saber. existe no mercado um produto tão inútil quanto desejável. chama-se smell of books. como o nome indica é um spray que enche o e-reader com um perfume que nos faz esquecer que estamos a ler um livro electrónico. o spray promete dar a sensação de estarmos a ler um livro em papel, apesar do ecrã e da ausência de folhas. um dos aromas é o ‘new book smell’. parece que ficamos com a impressão de estar na nossa livraria preferida e que as pessoas perto de nós percebem pelo cheiro que estamos a ler um livro novo. o meu favorito, embora não tenha experimentado nenhum, é o ‘eau, you have cats’. é um concentrado de 20 mil livros usados, recomendado a quem tenha animais e coleccione livros. não custam mais de dez dólares (de oito euros). peço a quem leia estas linhas que experimente os produtos desta empresa imaginativa, smellofbooks.com, e que depois me conte como foi.

não faz a primavera

um casal de namorados tunisinos estava no carro quando foi surpreendido por três polícias, que imobilizaram o homem e violaram a mulher. o caso veio a público e a notícia correu mundo porque a mulher de 27 anos tomou coragem e denunciou o crime. talvez como forma de pressão para desistir da queixa, a mulher foi acusada de atentado ao pudor. os violadores acusam a mulher de estar numa ‘posição imoral’ no carro com o namorado. ela defende que não, que estavam ambos vestidos, cada um sentado no seu lugar. está evidentemente tudo mal neste caso. mesmo que a conduta amorosa dentro do caso fosse parecida com uma cena do último tango em paris, nada atenuaria a violação policial de que a mulher foi vítima. a tentativa de desviar as atenções do crime para uma suposta culpa da vítima é uma tradição com milhares de anos. a primavera árabe na tunísia chegou descompensada. até a ditadura parece mais liberal do que a democracia. é complicado.

um bom passo

a vogue já tinha anunciado que iria deixar de ter menores nas suas reportagens fotográficas para adultos, mas só agora as regras parecem estar definidas para as publicações em todo o mundo. a decisão tinha sido apresentada na primavera, mas só depois de a vogue na china ter publicado uma série de páginas com uma modelo de 15 anos houve a necessidade de pedir desculpa publicamente e de pôr as decisões por escrito para que todos as respeitassem. é certo que as modelos mais famosas do mundo começaram muito cedo a trabalhar no meio, mas é também verdade que o negócio se tornou ainda mais competitivo. é de certeza muito difícil para uma rapariga de 15, 16 anos suportar as provas a que é continuamente sujeita no meio. os problemas de anorexia e bulimia, comuns entre modelos muito jovens, ajudaram certamente à decisão, que é de saudar. antes de entrar em guerras há que ter uma estrutura emocional para as travar.