no último dia de setembro, o centro de atenas, capital do país, encheu-se uma
vez mais em protesto contra a crescente austeridade que aperta o país, numa
manifestação que foi a mais noticiada, mas apenas uma mais entre as várias que assolam o país
todas as semanas.
no meio do protesto, convocado pela maior união sindical da grécia, outros grupos apontavam as suas vozes para outros alvos: o fascismo e o neo-nazismo, hoje simbolizados pelo aurora dourada.
ao final do dia, 15 pessoas que participaram nesse protesto estavam nas instalações da
direcção geral da polícia de attica (gada, na sigla inglesa), sinónimo da
polícia metropolitana de atenas. lá terão sido espancados,
queimados com isqueiros, humilhados e impedidos de dormir e beber água, num
conjunto de queixas noticiadas esta terça-feira pelo the guardian. dias depois, outros 25 manifestantes foram detidos e sujeitos a um tratamento semelhante.
«tínhamos tanta sede que até bebíamos água das retretes»,
revelou um dos detidos, citado mas não identificado pelo diário britânico, por
temer represálias da polícia mas, sobretudo, de elementos do amanhecer dourado,
com quem os detidos acusam o gada de colaborar e a imprensa de não noticiar os
abusos e violência que fazem por proliferar.
«aqui, os jornalistas não falam destas coisas, ninguém
presta atenção se não noticiarem isto no estrangeiro», apelou um outro. de
facto, à hora da escrita desta notícia (16h10), nenhum dos principais jornais
gregos, na sua edição online –
ekathimerini (versão inglesa), ta nea, express e ethnos – destacava qualquer
texto sobre a violência noticiada pelo diário britânico.
uma violência apontada ao gada e aos seus agentes, e
que foi descrita por um dos advogados dos detidos como «uma humilhação ao
estilo de abu ghraib», a prisão que as tropas norte-americanas utilizavam, no
iraque, para interrogar e torturar prisioneiros iraquianos.
de entre o primeiro grupo de 15 detidos, as queixas revelam que os
polícias lhes terão negado acesso a água e advogados durante 19 horas e, aos
feridos, só foi concedido tratamento médico no dia seguinte à manifestação. os
detidos terão sido obrigados a despirem-se e a dobrarem-se em posições «humilhantes», sendo impedidos de adormecer pelos agentes, que lhe apontavam lasers e tochas
para os olhos e lhes cuspiam em cima.
«tudo o que podíamos fazer era olhar uns para os outros,
pelo canto dos olhos, para nos dar coragem», conta um dos detidos, revelando
que, quando um dos agentes, responsável pelos actos, recebeu um telefonema,
atendeu-o dizendo: «estou a trabalhar e a lixá-los, a lixá-los bem», usando uma
tradução sem o vernáculo citado pelo the
guardian.
uma das imagens divulgadas pelo diário mostra um grande hematoma
nas pernas de um dos alegados detidos, e um outro com um braço e perna fracturadas.
a amanhecer do
extremismo
o partido neo-nazi foi o sexto mais votado em maio, nas últimas eleições
legislativas do país, reunindo votos suficientes para hoje sentar 18 deputados
no parlamento helénico.
em algumas sondagens divulgadas na passada semana, o partido
era o terceiro colocado nas intenções de voto, apenas atrás do par que sustenta
a coligação no governo – os socialistas do pasok e os conservadores da nova
democracia (nd).
fora das urnas e nas ruas do país, porém, membros conotados
com o partido têm atacado várias pessoas em bairros de imigrantes de atenas e
distribuído comida e roupas a cidadãos mais desfavorecidos.
na noite que passaram nas instalações do gada, os
manifestantes revelam ter recebido repetidas ameaças de que as suas moradas
seriam divulgadas ao aurora dourada, contra quem, horas antes, tinham lançado
as suas vozes de protesto.
christos manouras, um porta-voz do gada, sublinhou que «não
houve qualquer uso de força por parte dos agentes da polícia», assegurando ainda
que as autoridades «analisam e examinam aprofundadamente qualquer relato que
apontem para o uso de violência».
(artigo corrigido às 18h59.)