em 2009, a cosco, uma empresa estatal chinesa, pagou cerca
de 500 milhões de euros ao governo grego para explorar, por um período de 35 anos, metade do porto mais movimentado
do país e o maior em termos de tráfego de passageiros na europa. no
mediterrâneo e no mar egeu, é um ponto onde confluem inúmeras rotas turísticas.
aqui, porém, interessam os números comerciais, em termos de
carga e de contentores. a metade chinesa do porto alberga recebe hoje um número
três vezes maior de contentores e anunciou, em julho, de acordo com a bloomberg, que vai construir uma
terceira doca para aumentar a sua capacidade de atracagem de cargueiros.
o new york times
visitou essa parte do porto de piraeus e escreveu como a mão-de-obra e gerência
chinesas estão a fecundar o crescimento nessa metade do porto, e a estimular
que o outro, sob supervisão do governo grego, faça por o acompanhar.
primeiro, o maior tráfego comercial na metade chinesa
significa logo lucro para os cofres gregos, devido às taxas portuárias e
alfandegárias cobradas. depois, «a competitividade força [a metade grega] a
tomar iniciativas para encontrar melhores maneiras de trabalhar», como explicou
stavros hatzakos, director da autoridade portuária de piraeus (app).
e investimento, ao que parece, não falta.
apesar dos 72,7 milhões de euros registados em vendas, a
cosco recolheu apenas cerca de 5 milhões em lucro devido às somas que está e
pretende investir na expansão e modernização do ‘seu’ porto.
no total, planeia gastar quase 300 milhões de euros no alargamento
das infra-estruturas, com o objectivo de, em 2013, aumentar para 3,7 milhões o
número máximo de contentores que poderá acolher.
do outro lado, na parte helénica, os lucros provêm, na sua
maioria, do tráfego de passageiros. no total, a metade grega emprega cerca de
800 pessoas, número já ultrapassado pelos mais de 1000 trabalhadores que a
cosco opera.
mas esta diferença explica-se pela faceta mais negra dos números.
o diário norte-americano realça que alguns trabalhadores do lado grego chegam a receber anualmente quase 140 mil euros, e, na fatia chinesa, o salário num ano
ronda em média os 18 mil euros.
thanassis koinis, um dos membros da app, acusa a cosco de pagar
a subempreiteiras para contratarem mão-de-obra barata, temporária e com menos
recursos técnicos. e, claro, oferecendo aos trabalhadores salários mais baixos.
«estão a trazer mão-de-obra do terceiro mundo para cá», atirou babis
giakoymelos, um dos dirigentes do sindicato dos trabalhadores do porto.
o director de operações da cosco, um grego, tasos
vamvakidis, respondeu dizendo que «aqui tudo funciona adequadamente (…) e
trabalha-se 24 horas por dia, 365 dias por ano». tudo sem greves, protestos ou
trabalhadores sindicalizados.
e tudo, também, num país onde a taxa de desemprego continua a escalar – situa-se nos 25,1% -, onde, em média, cerca de mil pessoas perdem por dia o seu posto de trabalho, numa economia que as estimativas apontam que venha a contrair 6,5% este ano.
numa grécia onde já se começa a falar em novo alargamento do prazo para cumprir as metas acordadas com a ‘troika’ (ue, bce e fmi).
(artigo corrigido às 16h21.)