Portas, impostos e cortes na despesa

Paulo Portas e o CDS, para terem força e autoridade para exigir maior redução do peso do Estado, devem falar, antes de mais, do que já fizeram neste Governo nesse sentido.

o cds tem três ministérios: negócios estrangeiros, solidariedade e segurança social e o enorme ministério da agricultura, do mar, do ambiente e do ordenamento do território. na segurança social, diminuir o peso do estado tem outras implicações que são conhecidas. se há área onde se exige a presença do estado, é essa. e se não está mais, nos tempos difíceis que se vivem, é porque não pode. nos negócios estrangeiros, paulo portas encerrou alguns consulados, reestruturou embaixadas. e aí já havia muito pouco para poupar, pelo contrário, portugal precisava de mais recursos para investir na frente externa. já no ministério entregue a assunção cristas é bem diferente. por exemplo, nos sectores da água e da gestão de resíduos, na agricultura e na gestão do território, há economias para fazer e decisões por tomar. nesse ministério, é grande o peso dos serviços do estado e, até hoje, são poucas as notícias de uma reforma como aquela que portas apareceu a exigir, no final do debate das moções de censura do pcp e do be.

paulo portas tem força para impor a vítor gaspar uma reforma mais incisiva? tem de chegar a acordo com passos coelho e com vítor gaspar. o tempo e o modo de abordagem pública deste tema, por parte do cds, não tem ajudado a que seja tratado com a serenidade adequada. é normal um partido, numa coligação, ser, por exemplo, ou mais estatista, ou mais defensor do sector privado do que o outro – daí não vem mal ao mundo! os partidos não são iguais e, em coligação, continuam a ser diferentes. têm é deveres recíprocos de respeito e lealdade. tratar essa matéria na praça pública quando se sente que há levantamento de multidões, não será o mais próprio. desde há uns dias, passou-se a uma atitude diferente e ainda bem. domingo passado, foi o dia todo em conselho de ministros e não houve declarações. lá está: trabalhar afanosamente, sem alarido público, na procura de soluções comuns.

romney ganhou

entendo que mitt romney ganhou o debate com vantagem considerável. esteve em boa forma na expressão visual, na atitude, no raciocínio, até no sorriso. falou daquilo que as pessoas querem ouvir. disse ao que vem e aquilo que quer fazer, enquanto barack obama passou a vida a explicar o que fez e o que não fez, o que queria fazer, mas não conseguiu, o que romney quer fazer, mas não deve… enfim…

romney anunciou objectivos e barack obama fez análises políticas, económicas e sociais. romney foi incisivo, esteve calmo e falou de investimento e de empregos. obama falou de milhões e biliões e triliões, com ar cansado e, por vezes, quase reverencial. deu a perfeita sensação de que receou os conhecimentos e a experiência do seu adversário sobre economia, sobretudo economia real. não estou a dizer que gosto mais de romney do que de obama, ou que é melhor ganhar um ou outro. estou a dizer que romney ganhou, largo, o debate.

como ganhou josé serra a primeira volta das autárquicas para a prefeitura de são paulo. durante meses, deram-no como perdido, nem indo à segunda volta, depois colocavam-no em segundo. na véspera da eleição, uma sondagem punha-o pela primeira vez na frente, com um ponto de vantagem. acabou por ganhar a primeira volta com quatro pontos de vantagem. a política tem esta graça dentro da pouca graça que hoje tem: dá grandes surpresas àqueles que normalmente pouco as esperam.

a proposta do ps para reduzir deputados

eu gosto da proposta de antónio josé seguro, por uma razão simples: defendo-a há muitos anos. defendo a redução significativa do número de deputados e também a alteração do sistema eleitoral para círculos uninominais, combinados com um círculo nacional, como método proporcional.

seria muito bom para portugal que os partidos se entendessem nesta matéria. mesmo que não se entendessem sobre mais nada, um acordo sobre isto, já era um bom avanço. passar o número de deputados de 230 para 150, por exemplo, elegendo-se a maioria por círculos uninominais e cerca de um terço pelo círculo nacional.

recordo que defendo também, há muito, a criação da segunda câmara do senado. volto a dizer que quase todos os estados democráticos têm senado ou câmara alta. volto a dizer que portugal já teve senado, ou câmara alta, em monarquia e em república, em ditadura e em democracia. os chamados notáveis, ou ‘pais da pátria’, ou, mais correctamente, quem quiser candidatar-se a ser eleito para esse órgão, deve recusar o conselho de estado e servir o país num órgão que reúna com mais frequência e tenha mais poderes, nomeadamente de melhoria do processo legislativo. trinta senadores chegam e, a ser assim, com os 150 deputados, ficávamos com 180 membros do parlamento, em vez dos 230 actuais.