como os seus mestres caseiros do antifascismo, eles habituaram-se a olhar a nação e o nacionalismo como coisas do passado ou então de gentes selvagens, escuras, pobres e fanáticas, que às vezes berram nas ruas e outras põem bombas. coisas longínquas no tempo e no espaço.
ora, a nação é – com o nacionalismo – um dos centros e dos motores da história moderna. talvez mesmo o centro, a seguir ao estado soberano. e sobretudo depois da ascensão e queda das ideologias globais, como o fascismo e o comunismo, e da contemporânea globalização democrática.
houve a fracassada ‘revolta das nações’ de 1848-49. mas foram a nação e os nacionalismos que acabaram com os impérios dinásticos da europa oriental e central, e com o império turco. e que animaram e levaram ao colapso os impérios militares germânico e japonês na ii guerra mundial; e destruíram os impérios coloniais europeus nos anos subsequentes. e, finalmente, o império soviético nos anos 80.
a partir daí, as coisas aceleraram-se. a nação e a democracia são, combinadas, uma conjunção poderosíssima e subversiva. os estados multinacionais (aqueles em que existe mais que uma nação) ou os estados sem nação (como os estados falhados ou exíguos) correm riscos sérios – ou de fragmentação nas suas várias nações, ou de intermináveis guerras e conflitos em busca do estado.
acatalunha tem sete milhões de pessoas em 32 mil quilómetros quadrados. tem uma língua e uma literatura amadurecidas. os independentistas reclamam-se de uma identidade e unidade políticas que fazem remontar ao condado de barcelona e ao reino de aragão, com a sua expansão mediterrânica. as rebeliões do passado contra madrid, no século xvii e no princípio do século xviii, mais a linha separatista de 1900 até à guerra civil, dão outros foros à reivindicação.
jordi pujol construiu, pacientemente, os mecanismos institucionais – políticos, financeiros, culturais – para essa independência. e, ao contrário dos bascos, os catalães evitaram o recurso à violência, tendo percebido que, nos tempos que correm, qualquer opção, legítima ou absurda, é irresistível se for sufragada por uma maioria.
mas não parece que o governo de madrid (nem os espanhóis no seu conjunto) veja com tolerância esta vontade independentista. assim, o nó do problema vai centrar-se na força e na expressão popular que, depois da impressionante manifestação da diada, artur mas e os seus aliados consigam reunir e mobilizar. e da vontade e empenho das forças contrárias.
seja o que for, não vai ser fácil.