A polémica e o racismo nas viagens das selecções inglesas

No mesmo dia, as vozes futebolísticas de Inglaterra tiveram vários motivos para se revoltar. A selecção principal viajou até Varsóvia, capital polaca, e viu a chuva inundar o relvado de um estádio que podia ser coberto por um tecto amovível. Em Krusevac, na Séria, a vitória dos sub-21 terminou em confrontos e ao som de…

em terras polacas, a indignação espalhou-se, sobretudo,
entre os ingleses que tinham viajado até varsóvia, para assistir a nova partida
de qualificação para o mundial de 2014.

a grande maioria dos 2500 adeptos britânicos que estavam
ontem à noite nas bancadas já terá regressado a inglaterra por altura da
reedição do encontro, agendado para hoje, quarta-feira, às 16 horas. o the guardian falou mesmo numa «farsa»,
ao lembrar que a chuva começou a cair ao início da tarde, mas os responsáveis
do estádio decidiram não cobrir o topo do recinto, algo que demoraria cerca de
15 minutos.

«[os polacos] sabiam que iam chover, então porque não
cobriram o estádio?». a questão, atirada por um dos adeptos, falou da decisão,
ou falta dela, por parte dos responsáveis do recinto.

o resultado: à hora do jogo, quem aguardava nas bancadas ou
sentado no conforto de casa, diante da televisão, viu gianluca rocchi, árbitro
italiano, a inspeccionar o campo, completamente alagado, e a constatar com as
poças de água detinham a bola sempre que a atirava ao relvado. momentos depois,
confirmava-se o adiamento da partida.

«era bastante óbvio que este encontro não seria jogado»,
sublinhou roy hodgson, seleccionador inglês, atirando que as responsabilidades
para os responsáveis polacos por não terem fechado o tecto do estádio.

porém, um porta-voz do centro desportivo nacional, que gere
o recinto, alegou que a decisão de accionar o mecanismo para fechar o tecto só
poderia ser tomada com a presença de um delegado da fifa, «que só chegou ao
estádio às 19h» – o encontro tinha início marcado para as 20h45. e acrescentou:
«não podemos fechá-lo quando há temperaturas negativas, ventos fortes ou quando
está molhado».

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‘sérvia não tem que
pedir desculpa’
ao início da noite, os sub-21 jogavam em krusevac o encontro que decidia o
apuramento para o europeu da categoria. nos minutos finais a equipa marcaria o
golo que garantiu a qualificação, mas os festejos nem um minuto duraram.

o golo levantou, tanto nas bancadas como no relvado, a ira
dos sérvios – os jogadores balcânicos começaram a confrontar os ingleses,
embalados por ruídos a imitar um macaco que ecoavam das bancadas, dirigidos aos
vários futebolistas negras que representava a selecção britânica.

um deles, danny rose, perdeu a cabeça. ao ser empurrado
pelas costas por um sérvio, envolveu-se em disputas com vários outros jogadores,
que foram posteriormente acusados por responsáveis da federação inglesa (fa) de
futebol de vociferarem igualmente insultos racistas. pelo meio, pontapeou uma
bola em direcção às bancadas e o árbitro mostrou-lhe um cartão vermelho, quando
já se encaminhava para o túnel de acesso aos balneários.

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interrogado acerca da confusão, logo após o encontro, aleksander
jankovic, seleccionador sérvio, ripostou com uma outra questão, citada pelo daily telegraph: «pedir desculpa pelo
quê?».

«são precisas duas pessoas para lutar, deviam era estar
contentes por a inglaterra se ter qualificado. podemos discutir sobre o
incidente amanhã [hoje] e analisar o que aconteceu», argumentou, já depois de
se recusar a endereçar qualquer pedido de desculpas.

em solo inglês, a decisão será recorrer à uefa, apelando a
que sejam impostas sanções à sérvia. hugh robertson, ministro do desporto,
garantiu já ter escrito uma carta a michel platini, líder do organismo que rege
o futebol europeu, «urgindo-o a iniciar imediatamente uma investigação», pois
«o racismo, em qualquer forma, é inaceitável e precisa de ser irradiado».

lourd ouseley, director da organização kick it out (let´s kick racism out of football – vamos chutar o
racismo para for a do futebol), defendeu que deveria ser tomadas medidas como
«retirar equipas de torneios, não deixar jogadores disputarem jogos (…) ou
impedir que os adeptos vão aos estádios ver jogos».

até david cameron, primeiro-ministro britânico, já veio apelar a «sanções fortes» por parte da uefa.

contudo, o telegraph
lembrou que, em matéria de racismo, a mão castigadora da uefa é menos severa do
que em outros incidentes.

a época passada, por exemplo, o manchester city visitou por
duas vezes relvados portugueses. na primeira, foi ao estádio do dragão e ouviu
os adeptos do fc porto a imitarem sons de macaco dirigidos a mario balotelli.
castigo: uma multa de 20 mil euros para os ‘dragões’.

um mês volvido, os ‘citizens’ – alcunha dada ao clube – jogavam
em alvalade e demoraram tempo de mais a regressar dos balneários ao intervalo.
por retardarem o retomar do encontro: uma sanção de 30 mil euros.

diogo.pombo@sol.pt