Espanha encostada à parede do resgate

Uma dúvida paira na cabeça de Mariano Rajoy, primeiro-ministro espanhol, que a Europa já só vê como uma questão de tempo: o pedido espanhol para um resgate total, depois de, em Julho, a ‘troika’ ter disponibilizado 100 milhões de euros em ajuda financeira ao sector bancário do país. Até a agência Moody’s adiou o ‘rating’…

mesmo que não venha a ser o
mais falado, este será certamente o tema comum na mente dos líderes europeus
que hoje se começam a reunir em bruxelas, para nova cimeira europeia – a 16.ª
desde o início da crise na zona euro. o ponto de partida no primeiro pedido de
resgate da grécia, em maio de 2010.

a imprensa europeia tem
sugerido cada vez mais que apenas que o executivo espanhol estará apenas a
negociar o ‘quando’ e ‘como’ receberá o resgate financeiro. os analistas
apontam para que o pedido seja oficializado no final deste mês ou no inicio de
novembro.


a história espanhola

em junho deste ano, escreveu-se a primeira página de um novo capítulo na
história da crise financeira da europa. pelo meio, já a irlanda e portugal se tinham tornado protagonistas, era agora a vez da espanha.

o governo de rajoy pedia uma
ajuda financeira à ‘troika’ – ue, bce e fmi -, um resgate parcial, destinado ao
seu sector bancário e que lhe permitirá aceder a um total de 100 mil milhões de
euros. 

um resgate que se tornou necessário, como explicou a bbc, face aos vários e consecutivos anos
em que os bancos espanhóis se endividaram com credores externos para financiar
empréstimos, ao invés de recorrem aos seus próprios depósitos.

a iminente falência do
bankia, o quarto maior banco espanhol, foi a face mais visível de um problema
que precipitou o país para o pedido de resgate.

entretanto, e preso às
condicionantes impostas pela ‘troika’, mariano rajoy tem implementado medidas e
cortes que não fogem às regras da austeridade.

no final de setembro, o
executivo aprovou o orçamento do estado para 2013, que pretende ajustar cerca
de 21 mil milhões de euros com vista a atingir, no final do próximo ano, um
défice de 4,5% do pib (produto interno bruto). para 2012, o objectivo
fixou-se nos 6,3%.

ao problema da banca tem-se
juntado um outro, o da dívida das regiões autónomas do país. cinco delas, incluindo
a catalunha, já recorreram ao fundo de resgate de 180 milhões de euros que o
governo central edificou, destinado unicamente ao financiamento das assistências aos executivos regionais, um fundo que já se está a esgotar.

e o governo, por si só, já não tem
margem onde possa aplicar mais cortes: hoje, a diferença entre o que gasta e as receitas
que regista é cada vez menor, e aproximou-se do ponto em que estará prestes a
ter que pedir um resgate total à sua economia.

o el país escreve esta quinta-feira que já estarão a ser discutidos
os últimos detalhes para o seu programa de ajuda financeira. esta
iminência levou a agência de notação financeira moody’s a adiar a atribuição de um ‘rating’ de ‘lixo’ à
economia espanhola. uma decisão que só contribui para convencer ainda mais
rajoy de que esta será a altura certa para pedir o resgate: a decisão da moody’s
fez com que as taxas de juro a 10 anos baixassem, reforçando o ‘convite’ ao
pedido espanhol.

a alemanha, pela voz da sua
chanceller, angela merkel, voltou a frisar que a decisão de pedir um resgate
cabe «exclusivamente» ao governo espanhol, como destacou o el mundo. porém, o primeiro-ministro finlandês, jyriki katainen, defendeu que a espanha não precisará de um resgate total à
sua economia.

os finlandeses são, a par dos germânicos e dos holandeses, as três nações que votarão contra um dos temas que vai ser hoje atirado para a discussão europeia, em bruxelas – a hipóteses de os países já com acordos de assistência financeira, de acederem ao novo mecanismo europeu de estabilidade (esm, na sigla inglesa), que entrou em vigor na passada segunda-feira, 8 de outubro.

diogo.pombo@sol.pt