mesmo com uma contenção orçamental de 5,3 mil milhões de euros, financiada em 80% através de impostos que irão diminuir significativamente o orçamento das famílias, o governo decidiu manter as previsões macro-económicas para 2013.
segundo o oe-2013, o produto interno bruto (pib) deverá contrair-se 1% no próximo ano, ou seja, um terço do verificado em 2012. isto apesar de o consumo privado cair 2,2%, o desemprego atingir um máximo de 16,4% e as exportações subirem 3,4% – um ritmo, recorde-se, 30% inferior ao verificado em 2012.
só entre 2011 e 2013, o pib português terá contraído 6%, o consumo das famílias 12% e o investimento das empresas 30%. esta fuga de recursos da economia deverá fazer portugal regressar, no próximo ano, a níveis de 2005 e o investimento para valores de 1995. em relação ao período pré-crise do euro, a economia viu eclipsar-se 15 mil milhões de euros em consumo e nove mil milhões de euros em investimento empresarial.
a inexistência de investimento sinaliza que as empresas não deverão fazer contratações, agravando o desemprego, e que a diminuição das importações está a ser feita por menos consumo e não por substituição – ou seja, por as empresas em portugal produzirem produtos que antes o país importava.
mas as estimativas do governo poderão ser demasiado optimistas.
troika pede mais cortes na despesa
o problema reside nas suas duas ‘estrelas’ para 2013: as exportações e as receitas de irs. o abrandamento das vendas ao exterior está confirmado, mas poderá ser superior. espanha, frança e itália (responsáveis por 40% das exportações) estão sob ameaça de resgate (espanha) ou vão avançar com forte austeridade em 2013, o que reduzirá a procura de produtos portugueses.
a boa performance dos mercados extra-comunitários (angola por exemplo) deverá manter-se, mas o seu peso continua marginal nas trocas comerciais: os cinco maiores mercados de portugal fora do espaço europeu (angola, brasil, eua, china e marrocos) representam apenas 15% das exportações totais.
mas um dos principais avisos de que as estimativas macro-económicas para 2013 são optimistas vem da própria troika. nos relatórios da quinta avaliação a portugal, lê-se que a mudança de direcção na política de ajustamento orçamental, com um foco quase exclusivo nos impostos, poderá resultar numa receita fiscal abaixo do esperado (prevê-se que a receita de irs aumente 30%). e acrescenta-se: «o impacto adverso da política fiscal no crescimento poderá ser superior ao estimado». os credores externos pedem assim ‘um plano b’ para evitar «surpresas negativas», como sucedeu com o iva este ano. o plano deverá incluir várias medidas, «sobretudo do lado da despesa» para compensar eventuais derrapagens.
luis.goncalves@sol.pt