Investimento de empresas recua 20 anos

O terceiro ano consecutivo de recessão e de intervenção da troika vai colocar a economia portuguesa e o consumo privado a níveis de 2005 e fazer o investimento recuar quase 20 anos. Estas são algumas das consequências do maior plano de austeridade aplicado na história da democracia portuguesa, inscrito no Orçamento do Estado de 2013…

mesmo com uma contenção orçamental de 5,3 mil milhões de euros, financiada em 80% através de impostos que irão diminuir significativamente o orçamento das famílias, o governo decidiu manter as previsões macro-económicas para 2013.

segundo o oe-2013, o produto interno bruto (pib) deverá contrair-se 1% no próximo ano, ou seja, um terço do verificado em 2012. isto apesar de o consumo privado cair 2,2%, o desemprego atingir um máximo de 16,4% e as exportações subirem 3,4% – um ritmo, recorde-se, 30% inferior ao verificado em 2012.

só entre 2011 e 2013, o pib português terá contraído 6%, o consumo das famílias 12% e o investimento das empresas 30%. esta fuga de recursos da economia deverá fazer portugal regressar, no próximo ano, a níveis de 2005 e o investimento para valores de 1995. em relação ao período pré-crise do euro, a economia viu eclipsar-se 15 mil milhões de euros em consumo e nove mil milhões de euros em investimento empresarial.

a inexistência de investimento sinaliza que as empresas não deverão fazer contratações, agravando o desemprego, e que a diminuição das importações está a ser feita por menos consumo e não por substituição – ou seja, por as empresas em portugal produzirem produtos que antes o país importava.

mas as estimativas do governo poderão ser demasiado optimistas.

troika pede mais cortes na despesa

o problema reside nas suas duas ‘estrelas’ para 2013: as exportações e as receitas de irs. o abrandamento das vendas ao exterior está confirmado, mas poderá ser superior. espanha, frança e itália (responsáveis por 40% das exportações) estão sob ameaça de resgate (espanha) ou vão avançar com forte austeridade em 2013, o que reduzirá a procura de produtos portugueses.

a boa performance dos mercados extra-comunitários (angola por exemplo) deverá manter-se, mas o seu peso continua marginal nas trocas comerciais: os cinco maiores mercados de portugal fora do espaço europeu (angola, brasil, eua, china e marrocos) representam apenas 15% das exportações totais.

mas um dos principais avisos de que as estimativas macro-económicas para 2013 são optimistas vem da própria troika. nos relatórios da quinta avaliação a portugal, lê-se que a mudança de direcção na política de ajustamento orçamental, com um foco quase exclusivo nos impostos, poderá resultar numa receita fiscal abaixo do esperado (prevê-se que a receita de irs aumente 30%). e acrescenta-se: «o impacto adverso da política fiscal no crescimento poderá ser superior ao estimado». os credores externos pedem assim ‘um plano b’ para evitar «surpresas negativas», como sucedeu com o iva este ano. o plano deverá incluir várias medidas, «sobretudo do lado da despesa» para compensar eventuais derrapagens.

luis.goncalves@sol.pt