A troika e a ‘doika’ do Sporting

O que se passa no Sporting é, simultaneamente, estranho e complicado.

é estranho o que se diz e o que se vai sabendo sobre a crise financeira do clube. parece faltar o dinheiro mas, ao mesmo tempo, o sporting tem continuado a investir em contratações de jogadores estrangeiros, em muitos casos internacionais dos respectivos países.

parece que existe luz verde da ‘doika’ que conduz o processo de ajustamento do sporting para que se concilie, de algum modo, a necessária austeridade com algum investimento que possa gerar retorno.

na prática, a ‘doika’ (ou ‘unoika’ ) do sporting permite aquilo que a troika não tem permitido a portugal. pelo exemplo, razão parece ter a troika que não tem dado folgas para quaisquer estímulos de apoio ao crescimento. o sporting tem-nos tido, e os resultados são o que se vai vendo…

desde que os candidatos são eleitos dizendo quem são as administrações da sad e, até, o treinador, tornou-se complicado manterem intacta a legitimidade quando eles saem.

no caso de godinho lopes, já saíram o treinador domingos paciência e, agora, o administrador luís duque e o director-geral carlos freitas.

esse conjunto representou, indubitavelmente, uma mais-valia eleitoral, até porque duque e freitas estão ligados aos últimos títulos que o sporting conseguiu na liga profissional de futebol. sem esses dois nomes, godinho lopes alguma vez teria conseguido o mesmo número de votos? seguramente que não.

para além desses dirigentes, recorde-se que já dois vice-presidentes da direcção do clube se afastaram: carlos barbosa e paulo pereira cristóvão. para além disso, o presidente da assembleia geral, eduardo barroso, não dá tréguas à direcção. na verdade, não está nada fácil para o actual presidente do sporting conseguir manter-se em funções.

tal como no país, no sporting houve eleições há pouco mais de um ano e muita complicação surgiu no poder que delas saiu. alguém quererá substituir quem está com a responsabilidade de governar? no país, não. no sporting, talvez.

as eleições no benfica

o futebol é um pouco o espelho do país: elevado endividamento, depois de muito dinheiro gasto em betão, em pessoas e no funcionamento.

no futebol, as ppp são os estádios de futebol. só que o benfica é um pouco como espanha: não está ‘em ajustamento’ porque tem uma dimensão significativa. mas até quando os clubes poderão viver com o peso dos passivos que acumularam?

anos e anos de acumulação de défices anuais num quadro de consideráveis desequilíbrios estruturais levaram os clubes para situações de difícil solução. o benfica não escapa a essa realidade.

luís filipe vieira parece já o ter compreendido. alienou passes de jogares fundamentais, tal como o país vai privatizando, ao longo de anos, empresas estratégicas. anunciou medidas de contenção salarial e chamou para a sua equipa dirigente nomes de pessoas que se lhe opunham.

o caso mais interessante, nas eleições do benfica, é juntar na direcção rui gomes da silva e josé eduardo moniz, que mantiveram confronto aceso aquando do meu governo. recordem-se as críticas então feitas por gomes da silva a marcelo rebelo de sousa – e a reacção da tvi, então dirigida por moniz.

desde aí não ficou a ser nada fácil estarem os dois juntos, seja onde for. vieira conseguiu-o. um deles, gomes da silva, representará mais o povo benfiquista, enquanto o outro talvez seja originário dos sectores que condicionam o poder no benfica. fazendo algum humor, cada um representará ‘massas’ diferentes… será assim?

de qualquer modo, trata-se de um sinal de que luís filipe vieira começa a preparar o tempo que se seguirá à sua saída.

ganhará estas eleições? não há quem vaticine outro desfecho . mas o resultado em moscovo não ajudou nada.

apesar de tudo, o futebol é bem mais aleatório do que a política. se os resultados não compensam, o poder muda. na política não é assim. demora mais. no futebol, pode mudar o treinador para criar novo élan; na política são as remodelações que servem para o efeito. só que para treinador todos querem ir. mas para ministro de governos de países em dificuldades deve ser mais difícil encontrar quem esteja disponível.

os problemas na comunicação social

outro sector em crise acentuada é a comunicação social.

não fez loucuras nem investiu em obras gigantescas. é vítima da crise generalizada, da quebra de vendas e, principalmente, da publicidade. no geral, não é culpa de erros próprios. mas em todas as áreas a crise faz sentir os seus efeitos. só que no futebol os prejuízos já vinham de antes. excepções? há sempre: olhe-se para o sporting de braga (e não só para a atitude em manchester). dá que pensar o que faz a prudência, a sensatez, o planeamento, a capacidade de liderança.