quando era nova e solteira, diziam-me que era de facto uma falta de educação recusar uma dança, numa festa de amigos, entre gente conhecida. era o que se chamava uma ‘tampa’, e significava uma humilhação para o rejeitado.
mas eram outros tempos. a dança tanto dava para namoriscar como para exibir movimentos harmoniosos. as pessoas da minha geração lembram-se com certeza de os stone’s quase pararem para ver o quito hipólito raposo a rodopiar alegre e desenvoltamente com as suas sempre juvenis namoradas. e qualquer bom dançarino brilhava numa festa. já não sou da geração em que as aulas de dança eram obrigatórias (hoje há um revivalismo na base do voluntariado), mas as pessoas, mesmo não dançando primorosamente, lá iam deslizando. o único perigo era uma pisadela, mas o pior ainda eram os saltos altos que usávamos. de resto, dançava-se com algum aprumo. hoje, há a desvergonha de se dançar com o copo e o cigarro na mão.
tudo mudou. dançar, agora, é uma aventura perigosa. uma filha minha, no casamento de uns amigos, viu-se com um par que a deixou cair tão desamparada que partiu o cóccix. e uma amiga dos meus filhos está quase há um ano a fazer fisoterapia, pela maneira como o par, numa reviravolta que quis elaborar, a fez estatelar-se.
portanto, leitora: como pode ser má educação ter a prudência de evitar aventuras tão perigosas?