apesar de nos últimos anos, a falência da argentina, em 2001 ou a maior reestruturação de dívida alguma vez feita (grécia em 2011) terem sido casos amplamente debatidos e considerados como eventos extraordinários, a realidade é que as ‘ondas’ de falências de nações são cíclicas e até habituais.
as duas mais recentes sucederam-se nas décadas de 80 e 90 do século passado com as economias emergentes da américa latina. anteriormente, nos períodos da grande depressão e pós-segunda guerra mundial, a vaga afectou as economias mais desenvolvidas, nomeadamente, da europa. a próxima onda poderá atingir o centro da moeda única europeia e da união europeia. grécia, portugal, hungria, eslovénia, espanha e itália estão entre os alvos mais prováveis.
grécia, 100 anos em default
segundo o livro this time is different de kenneth s. rogoff e carmen reinhart, docentes da universidade norte-americana de harvard, que analisa as crises financeiras passadas, só nos últimos 200 anos existiram, pelo menos, 250 falências de países, alguns deles várias vezes.
a história revela sempre dados curiosos. desde 1800 até aos dias de hoje, portugal entrou em incumprimento seis vezes, alemanha e frança oito vezes e a espanha 13 vezes. os espanhóis, aliás, foram os que mais processos de falência perante os seus credores registaram em todo o mundo. já países como os eua, canadá, reino unido, holanda ou suécia cumpriram sempre as suas obrigações perante os seus credores internos e externos.
os dois autores estudaram ainda a duração da falência de um país, ou seja o número de anos em que este não pagou aos seus credores. a grécia aparece em destaque com uma história de incumprimento único: desde 1839 até hoje, mais de metade destes quase 200 anos foram passados em default, adianta o estudo. no top dos campeões do incumprimentos, segue-se a maioria da américa latina (40% dos últimos dois séculos em falência).
as causas para o incumprimento de um país são várias, mas nos últimos dois séculos, foram sobretudo desencadeados pela queda abrupta dos preços das matérias-primas, fuga repentina de capitais ou choques na confiança dos investidores.
ninguém aprende com erros
os dois autores referem que, ao longo dos anos, países e credores sofrem do síndrome de «desta vez será diferente», uma espécie de ilusão de que se aprendeu com os erros do passado, após uma crise, e que no futuro estes não se irão repetir.
porém, basta olhar para o paralelo entre as crises de incumprimento argentina e grega, ou a entre as ‘bolhas’ das dotcom e do subprime nos eua (eventos separados por menos de dez anos entre si), para se perceber o quanto dura a memória de políticos e dos mercados. como concluem rogoff e reinhart no seu livro: «a capacidade de os governantes e investidores se iludirem, abrindo portas a um período de euforia que normalmente acaba em lágrimas, permanece uma constante».