nas cardosas, com menos de 900 habitantes e 11 quilómetros quadrados de área, os recursos são sempre escassos para resolver os problemas da população e fazer a manutenção da freguesia, inserida no meio rural.
antónio joaquim reis ganhou a presidência da junta de freguesia há três anos (pelo psd) e, desde essa altura, reparte o seu tempo entre a autarquia e uma empresa ligada à indústria aeronáutica, em alverca, onde trabalha há 40 anos.
o «gosto pela terra» move o autarca de 55 anos, que começa todos os dias às 7h30 a trabalhar ao lado dos poucos funcionários da junta, ora em cima de andaimes a pintar, ora a podar árvores ou a aparar arbustos, ora a asfaltar estradas ou até a ajudar o coveiro no cemitério.
desta forma, não paga a mais funcionários nem adjudica obras a terceiros e não gasta o dinheiro que não tem no escasso orçamento da junta, que passou dos 93 mil para os 59 mil euros anuais.
«dedico-me por carolice, porque não é o subsídio de 270 euros que recebo que me paga a conta do meu telemóvel ou os combustíveis usados em prol da junta», explica o autarca, que já chegou a transportar vigas e cimento para obras no seu veículo pessoal.
«se voltar a candidatar-se, vou votar nele. estou muito satisfeita com o trabalho. ele cortou os arbustos todos na estrada. chega a trabalhar mais do que os próprios funcionários da junta», conta mariana campos, residente na freguesia.
depois de cortar a relva no miradouro da freguesia com maquinaria pessoal, antónio joaquim reis conta que é na rentabilização e na poupança dos poucos meios de que dispõem que as juntas de freguesia conseguem prestar um bom serviço às suas populações.
«no ano passado, pintámos o edifício da junta e a despesa nem a 500 euros chegou porque a mão-de-obra foi minha e de um outro funcionário. como é um edifício alto e grande, se fosse de empreitada era preciso 5.000 euros», exemplifica.
estes motivos levam o autarca a considerar que as freguesias rurais não devem ser reduzidas e que a reforma administrativa prevista pelo governo «desanima» muitos autarcas.
à semelhança de muitas freguesias do país, os três elementos do executivo da junta ganham 700 euros no total. «se a junta fosse extinta e se mantivesse a secretaria a funcionar, qual seria a despesa para o estado?», questiona.
antónio joaquim reis defende que os gastos das freguesias correspondem a 1% do orçamento do estado e da transferência de muitas câmaras municipais, como é o caso da de arruda dos vinhos: «a câmara tem um orçamento de 16 milhões de euros. as juntas recebem no total 150 mil euros, logo é 1%».
cardosas esteve na lista das freguesias para agregar no âmbito da reforma administrativa, mas com a mudança da lei, que deixou de fora concelhos com até quatro freguesias, passou a prever-se a sua manutenção.
lusa/sol