Actualizar acordo com a troika

Pedro Passos Coelho recuperou a iniciativa política com a proposta da refundação do acordo com os financiadores externos.

a prova está na resposta do ps, que não rejeitou a ideia quando a ouviu. disse, pela voz do seu secretário-geral, que necessitava de ver a proposta e o conceito esclarecidos.

dizem alguns que a proposta peca por tardia. será? tivemos a quinta avaliação, a preparação e entrega do orçamento… e temos constantemente uma série de incertezas exógenas, principalmente a nível europeu, que condicionam qualquer iniciativa.

poderia ter sido antes? podia! mas tem ou não fundamento? é preciso, ou não, redimensionar o estado? chega o dinheiro que temos para as funções que pretendemos que o estado desempenhe?

manda a verdade reconhecer que vítor gaspar formulou muito bem a questão: os portugueses não parecem dispostos a pagar os impostos necessários para tudo o que gostariam que o estado lhes garantisse.

são essas contas que têm de ser feitas. todos os que falam contra as taxas moderadoras, contra as portagens, contra as propinas e que também não querem mais impostos, têm de escolher. e escolher tem de ser, também, com base em contas de somar e de multiplicar. e algumas de dividir. inevitavelmente, chegarão à conclusão que é forçoso fazer contas de subtrair.

passos coelho aproveitou magistralmente a porta aberta pelo ministro das finanças e convidou o ps para essa grande tarefa.

fez bem! muito bem mesmo! o país sente que este vínculo com a troika precisa de ser actualizado. muitas coisas se passaram neste ano e meio que não foram previstas nesse texto. e provavelmente não o poderiam ter sido. o que não deve prevalecer é a falta de inteligência de se considerar aquele memorando um texto estático, imutável, insusceptível de revisão.

rever, actualizar, refundar o acordo com os financiadores externos é uma questão patriótica. é natural que existam diferenças consideráveis, mas todos estão convocados para se sentarem à mesa e conversarem. para já, pelo menos isso.

defendo há muito tempo que os principais decisores nacionais deveriam reunir-se durante um mês, sem poderem sair, para identificar os grandes bloqueios do país e procurar o consenso mínimo sobre as soluções necessárias. governantes, oposição, empresários, sindicalistas, universitários, comunicação social, poder local.

repito: pedro passos coelho fez muito bem. se fosse um dos ‘ungidos’, a iniciativa seria considerada quase ‘genial’.

essa iniciativa aconteceu nas jornadas parlamentares conjuntas do psd e do cds. importa, igualmente, reconhecer que foi uma realização política frutífera. acordou a maioria da letargia destruidora em que se encontrava. mérito para miguel relvas e para os dois líderes parlamentares, luís montenegro e nuno magalhães, que se ‘esfalfaram’ para que tudo desse certo. pareciam representantes de uma ‘agência matrimonial’. e foram bem sucedidos, porque as expressões e a cumplicidade de passos coelho e paulo portas no debate do orçamento já eram bem diferentes. parece pouco importante, mas não é. é fundamental.

a maioria governamental voltou a existir.

seguro está a crescer

o líder do ps, antónio josé seguro, vai ‘crescendo’. mais ou menos justo no que disse, mais ou menos excessivo nalgumas palavras sobre o primeiro-ministro, a verdade é que está mais confiante e mais assertivo. enunciou, com fundamento, um conjunto de propostas alternativas que apresentou no debate de há um ano e que lhe dão autoridade. a concluir a sua intervenção, virou-se para os deputados da maioria e lamentou não ter ainda maioria. mas logo garantiu que é uma questão de tempo. que se cuidem aqueles que o subestimam.

o patriarca, portugal e a europa

tive oportunidade esta semana de ouvir uma notável intervenção do cardeal patriarca de lisboa sobre os 50 anos do concílio vaticano ii.

os bispos de todo o mundo reuniram-se durante quatro anos. vieram de todos os cantos do mundo e juntaram-se, por apelo do papa joão xxiii, para pensarem a igreja católica e a sua relação com o que foi chamado ‘povo de deus’. como referia d. josé policarpo, o concílio não se reuniu para estabelecer dogmas ou para condenar fosse o que fosse. na ‘mensagem à humanidade’ desse concílio, escrevia-se, citando santo agostinho: «procuremos com o desejo de encontrar, e encontraremos com o desejo de procurar ainda».

não confundo planos. mas – aqui e na política – falamos dos seres humanos e do presente e futuro das comunidades que constituem. a igreja católica sentiu essa necessidade há 50 ano s – e os efeitos desse concílio ainda hoje se fazem sentir, constituindo um farol para muitos. o mundo, a europa, portugal necessitam, cada qual com os seus problemas (sendo alguns comuns), de ‘procurar com o desejo de encontrar’.