O que é preciso explicar a Merkel

A visita de Angela Merkel deve ser aproveitada para lhe falar do que Portugal pensa. Já que cá vem e que, normalmente, somos nós a ir ao centro da Europa, seja Berlim ou Bruxelas, deve ouvir o que ‘nos vai na alma’.

nós temos procurado respeitar os nossos compromissos. essa atitude tem sido elogiada pelos mercados e pelas entidades internacionais. ainda há dias, o jornal de negócios fazia um trabalho sobre a diferença da avaliação da situação portuguesa que é feita dentro das nossas fronteiras face à percepção que existe fora delas. eu próprio, há dias, numa conferencia telefónica com um elemento de uma sociedade financeira, sediada em londres, ouvi o mesmo.

angela merkel deve saber que a situação portuguesa não pode degradar-se mais. portugal deve aproximar-se da irlanda e não da grécia. por isso mesmo, soluções equilibradas e sensatas devem ser conseguidas. muito se tem falado da renegociação dos juros da dívida. a esse propósito, têm os portugueses ouvido a quanto ascende o montante de juros que portugal tem de pagar anualmente. é pesado, muito pesado. equivalente a quase o valor do défice orçamental previsto.

ora nós, os portugueses, vamos também ouvindo que a euribor tem baixado e se tem mantido em níveis muito baixos. e, se os juros baixam os portugueses (mesmo sabendo que os juros dos empréstimos estão contratualizados) têm dificuldade em entender por que razão os que dizem ser nossos parceiros na união e que querem ajudar-nos não são sensíveis a uma redução do esforço que nos é exigido, não para pagar a dívida, mas os seus juros.

qualquer pessoa que não tenha meios para pagar as suas dívidas, se for responsável, entra em desespero. qualquer povo precisa de acreditar no seu futuro – e isso passa por saber que o produto do seu trabalho não vai só para o pagamento de juros. caso contrário, é grande o perigo de convulsão social.

não queremos ser como a grécia, que já teve dois perdões parciais de dívida. na sociedade portuguesa tem-se falado de redução de juros, não de perdão de dívida. será descabido?

uma pessoa há que pensa muito sobre essa questão, mais do que qualquer outra: o primeiro-ministro pedro passos coelho. ele sabe bem quanto seria importante para portugal essa possibilidade. mas tem de pesar vários outros factores, principalmente as consequências nos mercados de uma tal proposta por parte de portugal. trata-se de matéria muito sensível, para devedor e para credor. mas também no plano político está a tornar-se, cada vez mais, uma questão fulcral.

há semanas, um alto responsável dizia que seria importante os membros da troika irem conhecer o território nacional e a realidade da vida dos portugueses. podia ser muito útil. exigir medidas quase em abstracto, longe das condições concretas de pessoas, famílias, empresas, é muito complicado. o mesmo não se sugere à senhora merkel. mas as representações diplomáticas também existem para isso.

certamente que não interessa aos outros europeus mais uma grécia. certamente que preferem outra irlanda. e certamente que ninguém quer um 2013 pior do que 2012, na execução orçamental e na agitação social. o povo costuma dizer que vale mais prevenir do que remediar.

também por isso, seria bom – seria mesmo muito bom para portugal – que governo e o principal partido da oposição estivessem de acordo no essencial que há a dizer à chanceler alemã. em minha opinião, trata-se de uma exigência patriótica.

quando cheguei, em março deste ano, à sessão de encerramento do congresso do psd, perante as perguntas dos jornalistas sobre o que eu tinha a dizer, limitei-me a afirmar que considerava essencial continuar o consenso mínimo com o partido socialista. é pena que não esteja a ser possível. alguém duvida do quanto era – é – importante para portugal?

sistema americano é muito injusto

barack obama ganhou. é melhor para a paz e para o equilíbrio do mundo. embora a vitória de mitt romney talvez fosse melhor para a economia americana e internacional.

só que o sistema eleitoral é mesmo injusto. às tantas, quase ao fim da noite, na flórida, cada um dos candidatos tinha um pouco mais do que três milhões e novecentos mil votos, com uma diferença de vinte ou trinta mil. e quem ficasse um voto à frente ficava com todos os 29 delegados. faz lembrar aquela música dos abba, the winner takes it all. não faz sentido! mesmo sendo o sufrágio indireto, os delegados eleitorais deveriam ser distribuídos proporcionalmente. o sistema eleitoral dos eua tem tanta falta de sentido quanto o sistema de governo de portugal.