“o prédio abanou mesmo e descolou do [edifício] que está ao lado. além das fendas abertas na sala e no quarto, são visíveis fissuras no exterior. às vezes digo que sinto formigueiros nos pés, mas ontem [sexta-feira] foi mesmo o prédio que tremeu. nunca vi nada igual e ainda estou aterrorizado”, desabafa o morador, de 66 anos, sentado na cozinha ao lado da esposa.
o casal estava a almoçar quando ouviu um ruído que jamais vai esquecer.
“a minha mulher fugiu e meteu-se debaixo da porta do escritório. eu, sem saber o perigo que corria, fui à janela e vi vidros no ar, portas de alumínio a dobrar e carros a andar de um lado para o outro. um deles bateu no meu, que acabou por ficar todo partido”, relata fernando maço.
segundo o morador no rés-do-chão, todos os inquilinos do prédio, com três andares, estão “psicologicamente abalados”, além de haver vários prejuízos.
“as janelas e a porta da cozinha estão partidas e a marquise está toda desfeita. a casa tem muitas mais fendas do que aquelas que tinha. foram cerca de quatro minutos, nunca tinha presenciado uma situação igual”, conta aida mestre, 75 anos, moradora no terceiro andar.
a idosa mostra a mão direita, que ficou negra na “luta” contra o vento quando tentava fechar uma porta, apesar dos esforços da própria e do marido.
o primeiro sinal que aida mestre teve do fenómeno meteorológico foi quando viu através da janela do quarto as árvores a serem derrubadas pelo vento no parque de estacionamento, onde estão dezenas de autocaravanas.
“foi uma catástrofe. estava na minha autocaravana quando vejo passar o meu carrinho à minha frente. ainda corri para tentar apanhá-lo, mas o vento era tão forte que acabei por cair e magoar-me nas costas. o carro acabou por embater numa outra autocaravana estacionada a cerca de 20 metros”, relata josé ribeiro, 62 anos.
o emigrante em frança, agora reformado, adianta que nunca viu nada igual em nenhum dos dois países e conta que tombaram cinco autocaravanas que se encontravam no parque. pelo menos uma delas tinha pessoas no seu interior.
junto a várias árvores caídas, o caravanista explica que algumas pessoas tiveram de ir para o hospital e que um casal de idade estava dentro de uma autocaravana quando a viatura “começou a rolar”: “vivemos momentos de grande aflição. parecia que o vento destruía tudo por onde passava”.
a cerca de 100 metros estão as piscinas municipais de silves, onde o rasto de destruição é visível: vidros partidos, uma parede destruída, as placas da cobertura podem ser vistas a dezenas de metros e são muitas as árvores arrancadas pela raiz ou vergadas ao meio, além de postes de electricidade e sinais de trânsito caídos.
no chão permanecem os restos das autocaravanas que cederam à força do vento, nomeadamente um sofá, um cobertor pendurado num ramo de uma árvore, diverso material de cozinha, um mapa da europa e uma fotografia.
do outro lado da estrada que atravessa a cidade está o estádio do futebol clube de silves, que veio “abaixo”.
os pilares de ferro que suportavam o peso da cobertura de uma das bancadas vergaram e tombaram sobre o pavilhão do clube. o portão da entrada está no meio do relvado e os muros de vedação desabaram.
“o estádio ficou arrasado. tinha ali uma máquina de pintar e estava à espera de que o tempo melhorasse para marcar o campo, pois tínhamos jogo hoje. mas a máquina voou e nunca mais a vi. só depois é que vim à procura dela e tinha voado 120 metros. estava no outro lado do campo”, afirma arménio duarte, 51 anos.
“até a relva está imprópria para jogar, pois está cheia de vidros de uma ponta a outra”, acrescenta o responsável pelo estádio desde 1987 e que, à semelhança dos habitantes de silves, jamais irá esquecer os três a quatro minutos de início de tarde do dia 16 de novembro de 2012.
lusa/sol