depois de terminar o curso técnico de construção civil, tiago oliveira, medidor orçamentista, encontrou um emprego na sua área, numa empresa que lhe oferecia “boas condições de trabalho”.
continuou a viver com os pais, mas, ainda assim, o dinheiro que conseguia poupar “era pouco”. a conta bancária, diz, “demorava muito a crescer”.
em portugal, “olhava para [um] futuro com poucas oportunidades”. queria “crescer”, queria viver de forma diferente. mas “via os caminhos a estreitarem-se cada vez mais”.
à sua volta, via empresas do ramo da construção civil, algumas “enormes”, a fechar. “via pedidos de insolvência, falências, às 400 pessoas a sair para a rua”. antecipou que, em algum momento, esta queda de dominó chegaria à empresa para a qual trabalhava e, eventualmente, ao seu posto de trabalho.
“entretanto, comecei a pensar, a assentar os pés no chão. queria ter alguma coisa minha e tentar começar a construir uma vida aos poucos. em portugal conseguiria, mas demorava muito tempo, ia ser muito difícil. o futuro não era muito promissor”, acrescenta.
por isso, aceitou um convite que o tio lhe fizera há dois anos, para trabalhar com ele em frança, numa empresa de construção civil, nos arredores de paris: “eu nunca pus de parte essa hipótese, nem nunca disse que não. fui adiando”.
foi para frança sem saber falar francês, mas com emprego e casa garantidos. e sem prazo. fica, diz, até achar que tem o que quer, até ter vontade de ficar.
até agora, não se arrepende de ter emigrado. dificuldades? “o céu não é azul, isso faz-me confusão. a língua francesa. e o trânsito: nunca se sabe a que horas os homens chegam à obra para começarem a trabalhar”, diz.
“eu detestava paris. as ruas feias, sujas, as pessoas diferentes. eu nunca tinha visto mulheres de cara tapada. mas fui-me habituando e hoje gosto disto. tenho tudo perto de casa, e isso é uma vantagem. os transportes públicos funcionam muito bem”, acrescenta.
a mãe juntou-se a ele há pouco tempo, para viver e trabalhar aqui, e o pai deve fazer o mesmo até ao final do ano.
tiago oliveira reconhece, porém, que a sua história não é muito comum, e diz mesmo que já se cruzou com trabalhadores portugueses que vivem situações difíceis: “isto não é fácil. não é só tirar o bilhete, chegar e ver no que dá”, alerta.
o jovem continua a acompanhar diariamente o que se passa em portugal através da internet e dos jornais. diz que não vê a situação a “evoluir”, mas que se sente agradado com o facto de “o povo estar a ter uma voz mais activa”.
“eu acredito e espero que a situação em portugal vá melhorar, mas penso que isso vai demorar muitos anos”, diz. tiago não tem dúvidas de que fará viagens regulares a portugal durante o ano, mas não tem tantas certezas sobre se voltará de vez ao seu país.
lusa/ sol