Deixem o homem

O director da CIA e herói da guerra no Afeganistão, o general David H. Petraeus, teve de se demitir por causa de uma relação extraconjugal com Paula Broadwell, sua biógrafa e também militar (na reserva).

vários e-mails ciumentos de paula a uma amiga íntima de petraeus, jill kelley, da base da força aérea macdill, em tampa, foram interceptados e o caso foi descoberto. apesar dos receios de chantagem, parece-me um exagero que petraeus se tenha demitido por iniciativa própria ou que a isso tenha sido obrigado. além dos seus méritos profissionais, vê-se que mesmo no adultério tem o sentido do dever. tanto paula como jill têm fortes ligações às forças armadas. ambas são casadas e não parecem estouvadas. por outro lado, petraeus é casado há mais de 37 anos, o que significa que deu o nó com 23 anitos (não desculpa, mas explica). isto para não dizer que dirigir os serviços secretos mais poderosos do mundo deve causar imenso stress.

sabe cantar

o filme que abriu a edição do lisbon & estoril film festival, the master, de paul thomas anderson, é esquisito. não tenho conhecimentos suficientes para perceber a relação da seita liderada por lancaster dodd (philip seymour hoffman) com a moderna cientologia, que tantos fãs parece reunir em hollywood, mas o próprio realizador admitiu que se inspirara em l. ron hubbard, criador do polémico movimento. no entanto, não parece ser um filme biográfico. talvez seja mais sobre modos de dominar o próximo através de segredos de que se diz ser o único detentor e sobre pessoas leais, tolas e indomáveis, como é freddie quell. joaquin phoenix faz o papel da vida dele até agora. e seymour hoffman, que grande actor!, sabe cantar, o que faz dele ainda mais talentoso do que pensava. canta um tema lindo de morrer de frank loesser, com o título ‘(i’d like to get you on a) slow boat to china’. está no youtube, cantado por tanta gente.

o gás de antigamente

está um texto no io9 (io9.com), um site sobre temas do futuro, que fala das razões por que as pessoas já não se suicidam com gás. nunca tinha pensado no assunto, mas até à década de 60 o método era assíduo nos filmes. até para matar, como na cortina rasgada, de alfred hitchcock. depois da segunda guerra mundial houve uma mudança no tipo de gás nas casas e deixou de ser uma solução. até ali era usado o chamado gás da cidade, à base de carvão mineral e altamente tóxico. continha 8% de monóxido de carbono. com 1% já é mortal. bastava abrir o gás, meter a cabeça dentro do forno, respirar, e em poucos minutos os objectivos suicidas eram cumpridos. alguém disse que era como ter uma câmara de gás em casa. em inglaterra, a mudança para o chamado gás natural, que não é tóxico por si só, foi concluída nos anos 70. ainda pode haver quem tente usar este sistema para se suicidar, mas para isso terá de sobreviver à explosão.

produtividade

a dada altura no vídeo teatro-independentista proposto por marcelo rebelo de sousa para os alemães aprenderem de uma vez que não andamos em festa aparece a comparação entre o número de horas que os alemães trabalham e o número de horas que se trabalha em média na pátria lusa. parece que trabalhamos 38,9 horas por semana e os alemães, esses sonsos, trabalham 35,7. quem acreditar na correspondência entre horas de trabalho e trabalho propriamente dito (i.e., pessoas que nunca tiveram a guilhotina do prazo encostadinha ao pescoço) fica escandalizado com a novidade. mas para os restantes, isto só quer dizer uma coisa: em portugal ou há gente a menos a executar as tarefas ou não se usa bem o tempo disponível para o trabalho. às vezes, é preciso mais gente. mas noutras há que fazer uma gestão mais eficaz do tempo disponível. é difícil mas uma pessoa aprende. basta começar a pensar que tempo é dinheiro, por exemplo. é um bom exercício.

mais intolerância

numa entrevista ao sol publicada na semana passada, teresa morais, secretária de estado dos assuntos parlamentares, defende a aplicação de penas mais duras para os agressores em casos de violência doméstica. tem, obviamente, toda a razão no que diz. são muitos os casos em que as vítimas têm de partilhar o tecto com o agressor, que entretanto é enviado tranquilamente para casa. nunca entendi estas decisões. teresa morais afirmou ainda que há uma cultura de desigualdade entre homens e mulheres que é comum aos países do sul da europa, que também não ajuda nada. uma solução para o problema pode ser o sistema de quotas para mulheres. não é o sistema ideal, mas é uma maneira de mudar as coisas. às vezes os tempos mudam para melhor, haja esperança. fica para trás, a marcar passo, quem não acompanha a mudança. alguns vão mesmo precisar de ficar na prisão. e não digo mais atrás ainda, porque sou uma pessoa de paz.