Angola ‘não é um país fácil’ para quem vem de fora

Angola não é um país fácil para quem quer emigrar e o conselho de Nélia Araújo, há três anos a viver em Luanda, é não o fazer com a justificação de que se está a fugir da crise.

“Acho que quem queira fugir de um problema, fugir de Portugal porque há crise não torna fácil mais nada. Até porque isso faz com que as pessoas venham contrariadas. Não é uma opção de vida”, frisa.

Nélia Araújo, 39 anos, confessa-se finalmente integrada e adaptada em Luanda, curiosamente a cidade onde nasceu, mas à qual não se imaginava a voltar, depois de ter saído para Portugal com apenas 18 meses.

O marido aceitou o desafio de um novo projecto profissional e a família, mulher e filho de 10 anos, veio com ele.

Dos três, a adaptação de Nélia foi a mais complicada.

“A minha adaptação aqui foi a mais difícil dos três. O meu filho amou Angola desde o primeiro dia que aterrou. O meu marido também. Para mim foi muito mais complicado. Nunca me tinha ocorrido sair de Portugal e nos primeiros meses – cheguei em Agosto e só fui a Portugal em Dezembro -, senti falta de muitas coisas, de muita gente”, recorda.

“Agora não! Tenho os meus amigos, tenho um núcleo muito forte, muito importante para a nossa estabilidade e voltar agora para Portugal seria impensável (…) A minha vida agora é aqui. Não me vou embora. Só se acontecesse alguma desgraça que me obrigasse a ir para outro país, mas Angola é efectivamente a minha casa, a nossa casa, da família toda, estamos todos perfeitamente integrados”, assegura.

Para essa integração ajudou ter lançado em Junho o que designa como “projecto de vida”, uma agência de comunicação.

“Passei por duas agências de publicidade em Angola, desde a chegada, e agora achei que estava na altura de marcar um bocadinho a diferença e que já tinha um conhecimento do mercado que permitia aventurar a um desafio meu”, diz.

Mas Nélia continua a acreditar que Angola não é um “país fácil” e aconselha a quem emigra que vá para aquele país “com optimismo, com vontade, e não para fugir de um problema, porque todos os dias são desafios”.

“Reconhecimento profissional? Consegue-se ter. Mas temos que ser muito dedicados, porque é essa dedicação que faz a diferença dentro de cada uma das áreas. Todos os dias são um desafio, todos os dias temos de arranjar uma solução para o problema que vamos enfrentar. Aqui sinto-me muito valorizada profissionalmente. Cresci imenso profissionalmente em Angola”, admite.

Nélia Araújo critica os preconceitos de quem acha que em Angola se “trabalha pouco, se ganha muito e que a vida é fácil”.

“Não é! Angola é um país muito difícil, quer para portugueses quer para angolanos, porque temos uma série de dificuldades e há uma série de situações que quem vive na Europa não tem a mínima noção”, acentua.

Nélia dá como exemplo as comunicações, com as dificuldades que se sentem no envio e recepção de emails.

Para quem vem trabalhar para Angola, Nélia dá outro conselho: “a aceitação e a forma de quem está e nunca saiu daqui e recebe quem vem de fora, depende muito da perspectiva de quem vem e da postura como vem e como aqui está, porque temos muitos garimpeiros, que são as pessoas que vêm aqui e estão um ano, dois meses ou semanas, que vêm fazer um negócio muito pontual e depois vão-se embora”.

“E essa perspectiva aqui não é bem aceite. Os estrangeiros garimpeiros vêm aqui porque acham que isto é uma mina de outro e vão embora”, acrescenta.

Quanto a saudades, foram mais no início. Agora, com o aproximar da época das festas do Natal e Ano Novo, Nélia prepara-se para passar o Natal em Luanda e entrar em 2013 “algures em África”.

“As idas a Portugal são agora cada vez menos. Por questões profissionais, no ano passado, ia com muita frequência. Praticamente de dois em dois meses. Este ano fui em Junho e não vou passar o Natal. Talvez (regresse) lá no verão, até porque agora com o meu desafio profissional, tenho de gerir melhor as minhas idas, normalmente duas vezes por ano”, conclui.

Lusa/SOL