“O mal de uns deve ser o bem de outros. E é neste princípio de vasos comunicantes que Portugal também acabará por tirar algumas vantagens, na medida em que são pessoas que vêm para Angola, que terão os seus rendimentos, que são transferíveis (…) e obviamente que isso dará conforto e estabilidade às famílias portuguesas”, referiu José Severino.
Angola é o país escolhido por cerca de 80 por cento dos portugueses que emigram legalmente para fora da Europa para fugir da crise e à procura de melhores condições de vida, referiu recentemente o secretário de Estado das Comunidades português, José Cesário.
Para José Severino, não existem áreas específicas para aproveitamento de mão-de-obra estrangeira, embora o Governo entenda que neste momento “produzir é vital, é prioritário”, lembrando que a produção não é feita apenas nas fábricas, “tem áreas periféricas”.
“Por exemplo, a nossa contabilidade enferma de insuficiência. Portugal tem contabilistas em excesso e sem contabilidade não há empresas eficientes, portanto seria um segmento que deveríamos explorar de uma forma dirigida”, realçou.
“O país tem que dar saltos qualitativos, céleres, seguros através da transferência de conhecimentos”, defendeu José Severino, notando que Angola enfrenta enormes dificuldades com as novas tecnologias.
“Nós vimos as dificuldades que temos com os nossos sistemas, a própria manutenção industrial tem um défice terrível, Portugal tem um superavit de técnicos de manutenção”, comentou, lembrando ainda que na área da agricultura devem ser igualmente aproveitados os conhecimentos de Portugal para o desenvolvimento da agro-indústria.
Quanto à actual lei de imigração angolana, o presidente da AIA considera-a desajustada para o momento que o país vive.
“Acho que a nossa lei de imigração devia ser reajustada (…), porque num determinado pressuposto diz que um técnico não pode ficar no país mais de três anos. Acho isso uma contradição, (…) (porque) quando a gente devia tirar o máximo rendimento dela estamos a mandá-la embora. Acho que há aqui um contra-senso”, justificou, adiantando que a AIA tem agendada uma reunião com o Serviço de Migração de Estrangeiros (SME) para apresentar o seu ponto de vista.
A mesma opinião, quanto à importância de mão-de-obra estrangeira no desenvolvimento angolano é partilhada pelo secretário executivo da Central Geral de Sindicatos Independentes e Livres de Angola (CGSILA), Francisco Jacinto.
“Gostaríamos nós que, não tendo Angola este quadro ainda suficiente para suprir todas as necessidades que o país hoje impõe, sobretudo na área industrial ou mesmo na agrícola, que Portugal ou outros países nos auxiliassem”, disse.
Segundo Francisco Jacinto, Angola não pode ser vista como “um país de socorro” para a crise europeia. “Teríamos que receber portugueses, brasileiros, espanhóis, mas qualificados de acordo com as necessidades “.
Entretanto, Francisco Jacinto diz que nem sempre tem sido essa a realidade, porque chegam àquela central sindical várias reclamações, dando conta que muita mão-de-obra estrangeira que se encontra em Angola não é qualificada.
“Digamos que não tem havido um certo controlo por parte do Governo angolano relativamente a esta questão, ainda se registam aqui no nosso país as fragilidades administrativas e então as pessoas vêm para cá com visto de turistas e acabam por arranjar emprego”, salientou.
“As reclamações que recebemos de todas as empresas é que vêm para aqui os nossos amigos portugueses, que não têm qualificação nenhuma, para trabalharem nas prateleiras dos supermercados, para serem chefes de recolha de lixo numa empresa, e não estamos a falar só de portugueses, também de chineses, que mesmo nas suas obras vêm para serem motoristas quando na verdade temos aqui milhões de motoristas”, lamentou.
As áreas do comércio e da construção civil são as mais citadas no que diz respeito às reclamações.
Lusa/SOL