Mali – que fazer?

A situação no norte do Mali é um exemplo típico da corrente e crescente incapacidade da chamada ‘comunidade internacional’ para lidar com os problemas dos ‘territórios’ e dos focos de insegurança, crime e terrorismo que eles tendem a originar.

aos exemplos históricos dos últimos trinta anos – o líbano, o afeganistão, a somália – que cada um a seu modo persistem como áreas de conflito latente, de guerra e sede de pirataria – junta-se agora esta larga zona entre o magrebe e a áfrica subsaariana.

a insustentabilidade, a desordem e a subversão da região são históricas, com base na resistência dos tuaregues ao poder maliano, que consideram uma continuação do poder colonial francês. várias rebeliões ilustraram esta resistência e a sua repressão pelo exército maliano levou, periodicamente à migração dos tuaregues para a argélia e para a líbia. da líbia voltaram, agora com armas e munições, muitos deles, que faziam parte das forças de segurança do coronel kadhafi.

a queda da ditadura líbia acelerou algumas tendências que já vinham a registar-se: primeiro vieram os salafistas que criaram em 2007 a aqmi – al-qaeda do magrebe islâmico, instalando vários katibas de combatentes. depois, na linha da reivindicação independentista, surgiu o mnla (movimento nacional para a libertação de azawad), ‘azawad’ é o nome que os independentistas dão ao norte do mali. e mais dois movimentos armados apareceram – ansar dine e mujao.

estes grupos, que se têm aliado e combatido numa geometria variável de fragmentação, entendimento e conflito ocupam hoje uma área maior que a península ibérica; têm armas e munições em abundância; têm e fazem reféns cidadãos europeus e argelinos que negoceiam, financiando-se também com os resgates; estão em contacto e mantêm relações comerciais com os narcos das américas, via bissau; estão todos os dias a receber voluntários da região e internacionais para a guerra santa. e estão a organizar o poder nas cidades, a impor a charia às populações e a prepararem-se para ficar.

perante isto, a impotência regional e euroamericana parecem a toda a prova: a cedeao fala numa força de 3000 homens, a mobilizar, organizar e treinar para intervir e restaurar o poder central. mesmo que o conseguisse fazer – seria quantidade irrisória para o número e a combatividade dos rebeldes.

os estados unidos e a frança proclamaram a necessidade de acção mas vão dizendo que nem pensar em contar com tropas suas para a operação consequente.

é que a questão é essa. não há força disponível. nos países nato – democráticos – nem pensar hoje em utilizar tropas fora de missões que não sejam a defesa do território nacional e operações de salvamento de nacionais em risco fora do território. outras intervenções, que podem implicar baixas em combate e carecem de apoio unânime da opinião pública, estão vetadas pelo risco político que trazem para os governos.

então o que fazer, uma vez que se reconhece a necessidade imperiosa de parar este novo ‘território’ perigoso, às portas-sul da europa?