Pânico nas estantes

A Slate publicou um excerto do livro Book Was There: Reading in Electronic Times, de Andrew Piper, professor na Universidade McGill.

neste texto apaixonado, fala dos livros como objectos de desejo, aprendizagem e tacto. sem duvidar do amor que produzem, o meu problema é outro. penso que a polémica sobre os livros lidos em gadgets é, por enquanto, inútil. ao menos até podermos escolher entre uns e outros. sei que nos havemos de habituar a ler nos ecrãs e, até que haja florestas, vamos poder ter os livros que quisermos em papel. a minha grande dúvida é se algum dia acabará esta imposição ridícula de sistemas, kindle, kobo, etc. se vamos ser capazes de emprestar livros como sempre fizemos, às vezes contrariados. se será possível alguém herdar os meus livros do kindle. se vão poder inventar um vírus que queime os meus livros guardados tecnologicamente. o futuro pode ser uma maravilha, mas nada nos garante que não haja um inferno à nossa espera.

os estóicos não precisam

no site da scientific american, li e ouvi – além dos artigos, encontramos um podcast intitulado ‘60 segundos de ciência’ – um breve resumo de uma descoberta simpática. fizeram uma pesquisa sobre o efeito placebo. os investigadores há muito que sabem que há pessoas que melhoram com uma aspirina. a questão estava em saber que tipo de pessoa é capaz de aliviar os seus sintomas com, por exemplo, uma solução de açúcar. antes de serem sujeitos a testes para um analgésico, os voluntários foram bombardeados com testes de personalidade. chegou-se assim à conclusão de que as pessoas mais agressivas ou de personalidade irritável reagiam só quando eram medicadas com o fármaco. o efeito placebo só era possível nas pessoas calmas e altruístas, que têm a sua própria protecção contra a dor. a notícia acaba com uma saudação aos estóicos. partilho dos comentários de alguns leitores: antipáticos e irritantes merecem o castigo de ter de tomar remédios. bem feita.

competitividade

a partir de 2014, em inglaterra, a aprendizagem das línguas estrangeiras será uma realidade nas escolas primárias públicas. a lista inclui o francês, o alemão, o castelhano, o italiano, o mandarim, o latim e o grego antigo. a justificação para a inserção no currículo das línguas a que nos referimos como ‘mortas’ está relacionada com a sua capacidade de tornar a gramática e o vocabulário de outras línguas mais compreensíveis. o latim e o grego antigo funcionam como uma base para entender o modo de funcionamento das outras línguas, que é útil na sua aprendizagem. as declinações deixam de ser um bicho de sete cabeças, o vocabulário fica mais claro, a memorização é facilitada, bem como o entendimento sobre o modo de construir palavras. a notícia pode servir para levar os nossos governantes a repensarem a sua atitude quanto às línguas clássicas. ah, são crianças dos sete aos 11 anos que vão ser sujeitas aos ablativos da vida antiga. estou só a avisar.

para adultos

passei algum tempo sem ver filmes de animação sofisticados, como são os da pixar e os da dreamworks. talvez me tenha cansado de tanto boneco. também é provável que os filmes se tenham tornado mais infantis. mas quando a minha amiga mais querida, maria joão, me disse que tinha de ver madagáscar 3 segui logo a sua recomendação. a saga do leão, da zebra, da hipopótama e da girafa chegou a um ponto em que os quatro se vêem abandonados em áfrica pelos pinguins que levaram o avião e prometeram voltar para os levar de novo para casa. o regresso a nova iorque passa por uma aventura atribulada num circo em monte carlo. há vilões humanos, tigres deprimidos, leões-marinhos histriónicos e até um lémur-de-cauda-anelada a ficar doido de amores por uma ursa feia e bruta chamada sonya. e há uma chegada a casa que não é celebrada, porque a viagem de regresso mudou tudo naquelas vidas. aquilo que mais queriam afinal não tinha assim tanta graça, nem era o mais importante.

agência matrimonial

o escritor e filósofo alain de botton deu uma palestra na fundação champalimaud sobre como viver sabiamente e bem. disse muitas coisas boas na conferência e uma delas foi que havia duas áreas de negócio a explorar no futuro. vou só falar da segunda, que descreveu com um sorriso: ser feliz no amor. ao contrário do que acontecia no passado, é essencial casar com o amor da sua vida, com a pessoa que se ama, e não com o filho dos amigos de infância dos nossos pais. quem conseguir reconhecer com sucesso quem é a alma gémea, tem a garantia de que ficará rico depressa e para sempre. nada que não tenha sido explorado por astrólogos e sites de encontros amorosos. talvez o filósofo estivesse a apelar a uma maior qualidade dos serviços. como seriam estes casamenteiros modernos? que semelhanças seriam levadas em conta para unir pessoas parecidas? e que diferenças? a tarefa, se tomada a sério, é divertida e complicada. alguém quer tentar?