desde logo, ficam a nu alguns tópicos do seu trabalho: a presença da figura feminina, o desejo e a sexualidade, a influência de filósofos. mas, nesta retrospectiva (a primeira apresentada em portugal desde flashback, na gulbenkian, em 2000), há uma nova abordagem à sua obra, entendida pela primeira vez pelo ponto de vista da arquitectura.
«a exposição desenvolve-se a partir da presença da arquitectura e da casa, como universo da domesticidade. por isso aparecem todas estas figuras femininas e uma série de referências culturais», explica joão fernandes, director do museu e um dos curadores da mostra, juntamente com o inglês james lingwood. ao longo da retrospectiva, que ocupa um dos pisos do museu, podemos encontrar as plantas das casas onde o artista viveu ou fotografias dos quartos que ocupou. julião sarmento cruza os universos da pintura, desenho, escultura, instalação, cinema, fotografia e performance: todas estas facetas estão em serralves.
a mostra inclui exemplares de várias das séries que lhe granjearam o título de artista português mais internacional da actualidade, tais como pornstar, cenas pornográficas representadas a preto e branco, apenas através das silhuetas feminina e masculina. o cruzamento dos corpos gera uma abstracção que leva a que cada espectador veja o que a sua mente quiser. por sua vez, noites brancas, que dá nome à exposição, é um conjunto de trabalhos em papel, de início dos anos 1980, igualmente com um cariz erótico e predominância do preto e branco. há ainda obras mais antigas, mas mostradas ao público pela primeira vez e até um novo projecto.
a azáfama e ansiedade provocadas pela montagem da retrospectiva levaram julião sarmento – que considera esta uma das exposições da sua vida – a cancelar entrevistas agendadas para a última semana. as dificuldades financeiras de serralves – que sofreu um corte de 30 por cento nos apoios estatais, decretado em setembro – provocaram atrasos e a última obra chegou apenas ao final da tarde de terça-feira.
«graças à generosidade dos mecenas, conseguimos reforçar o orçamento de forma a apresentar os trabalhos mais significativos do julião, vindos de vários museus internacionais, de várias partes do mundo», sublinha joão fernandes, que promove a sua última inauguração como director, já que em janeiro assume o cargo de subdirector do museu rainha sofia, em madrid. «é óptimo dizer adeus com uma exposição do julião sarmento, mas é um falso adeus, porque deixei a programação feita para 2013 e terei de voltar várias vezes. para além disso, continuarei a ter o porto como a minha cidade», confessa.