quando a europa se divide entre estados ricos e estados pobres, quando a espanha tem de enfrentar os riscos da secessão catalã, com os partidos independentistas – ciu e erc – maioritários, isto é ainda mais verdade.
portugal é uma nação antiga, unida, identitária. tem uma língua, uma literatura e uma história grandes e fortes. no último quartel do século xx sofreu uma transformação radical na sua constituição geográfica e humana mas tem-lhe sobrevivido. até ver.
a independência do reino de portugal, em 1143, significou uma separação dinástica em relação a leão e castela. com a conquista de lisboa, tal independência ganhou substância territorial. em 1173, a santa sé, o poder espiritual da sociedade internacional do tempo, reconheceu esta independência. dois séculos depois, na crise dinástica depois da morte de d. fernando, foi a vez das classes do reino – clero, nobreza e povo – afirmarem uma crescente consciência nacional ao recusarem um ‘rei estrangeiro’. e nos dois séculos seguintes as conquistas e navegações em dois hemisférios consolidaram o estado nacional português.
outra crise dinástica – em que o pretendente estrangeiro liderava a potência mundial da época – levou à perda da independência. alguns jurisconsultos políticos, gostam de dizer – e até talvez tenham razão – que era uma monarquia dual, que portugal e os portugueses mantinham identidade e governo próprios, que só o rei espanhol era comum. nesse sentido, os estados europeus ocupados por hitler também mantiveram a independência apesar dos gauleiters ou de um governo de ocupação e de tutela militar…
aqui também, na monarquia dual, o vice-rei ou governador e os altos funcionários eram estrangeiros oriundos do império espanhol, os nossos soldados e os nossos impostos lutavam e pagavam as guerras de espanha, os nossos navios comerciais eram saqueados e roubados pelos muitos inimigos das áustrias e pelos piratas.
em 1640, no dia 1 de dezembro, 40 notáveis portugueses deram um bem sucedido golpe de mão, libertando-nos do governo da duquesa de mântua e do secretário miguel de vasconcelos. a conjuntura internacional favoreceu-nos, a peninsular, ainda mais. madrid teve que combater não só na guerra dos 30 anos, como também rebeliões na andaluzia e na catalunha. quando se voltou contra nós, era tarde.
isto faz com que o 1.º de dezembro seja o dia da refundação da pátria e que os que arriscaram a vida e venceram nessa data, tivessem reconquistado para nós a liberdade da nação.
quem não percebeu nem percebe isto, só demonstra ignorância, insensibilidade, fraco senso e pouco gosto. não percebe a importância dos mitos e ritos fundacionais na política. é duvidoso que tenha competência para perceber outras coisas, mais ou menos importantes.