dérbi é dérbi: é o caldeirão de emoções, de história, de duelo entre títulos, que põe lisboa a discutir mais com o coração do que com a cabeça. porém, nem tudo dava para esquecer um fosso, um abismo que separava os rivais com 15 pontos, e atirava o sporting para um fundo do campeonato e mantinha o benfica na habitual luta cimeira.
a partida, de início, mostrava sinais dessa diferença: a bola rolava mais tempo pelos pés encarnados, era o benfica que procurava controlá-la e trocá-la no meio campo do sporting. os leões até deixavam, apenas montando cercos para roubar a bola quando os adversários estivessem já bem para lá da linha que divide o campo.
o sporting estava recuado, a equipa unia-se, juntava-se para tentar contrariar a força com que o benfica se atiraria para o ataque. a equipa aguardava, mas a espera demorou só alguns minutos a justificar-se: esperavam que os seus cercos recuados tivessem sucesso para, só depois, se lançaram em rápidos contra-ataques rumo à baliza de artur. era esta a fórmula escolhida.
e a estratégia começou a ser executada. eric dier à direita, um jovem inglês, mais habituado a estar a defender ao centro, tornou claro que os leões escolheriam mais o caminho de insua para atacar, à esquerda. e assim o foi. com capel também desse lado, a equipa ganhou três cantos logo no primeiro quarto de hora, fruto de investidas por esse lado.
mas seria pelo outro lado, aos 9 minutos, que um raro ataque resultou em falta do benfica e num livre, que insua tornou perigoso ao rematar a bola, em força, para defesa de artur.
até à meia hora, o sporting tentou sempre executar esta fórmula. o benfica continuava a ter mais bola, mas teimava em não a acelerar, em não a trocar rápido quando se aproximava da grande área adversária, e em não fazer mexer as duas peças que tinha na frente – lima e cardozo.
um golo para acordar
precisamente tudo o que só começou a fazer após o golo de ricky van wolfswinkel, aos 30 minutos, quando o holandês esperou, aguentou a bola, deu-a a capel, correu para a área e rematou-a depois de o espanhol a devolver. a partir daí, o benfica acordou.
em 12 minutos, a velocidade encarnada aumentou, e isso notou-se logo. ora lima ou cardozo (mais o brasileiro), um deles começou a recuar, a procurar receber bolas entre a defesa e o meio campo leonino, dando mais uma opção de passe frontal no ataque.
isto, aliado à rapidez após o ‘acordar’, deu ao benfica quatro jogadas que podia ter concluído com golo: um remate de lima, antes de duas bombas de cardozo e um livre também do paraguaio, com todos os episódios a surgirem de fora da área.
e volta o ‘velho’ leão
o intervalo nada mudou. o encontro manteve-se com um ritmo alto, jogadores a correrem muito e com poucos momentos de paragem – leia-se, faltas. o sporting não fugia da sua fórmula, e tão pouco o benfica deixou de pressionar no ataque.
os leões eram agressivos nas disputas de bola, rápidos a atacar e concentrados a defender. tudo o que de pouco tinham mostrado esta época, e hoje, tal só se viu até quase à hora de jogo: aí, o cansaço apanhou as pernas dos extremos da equipa, capel e carrillo – o último até foi substituído com cãibras -, e os (habituais) erros ressurgiram.
aos 57 minutos, o peruano deu um toque infantil na bola em vez de a cortar para longe na defesa, permitindo que esta acabasse nos pés de ola john que, na esquerda, a cruzou para cardozo cabecear, ganhando no ar a marcos rojo, que até empurraria a bola, com o braço, para dentro da baliza.
quatro minutos antes, porém, carrillo teria gasto as suas pernas numa corrida que acabaria com a bola nos pés de elias, mas o brasileiro, à imagem de outro dérbi da época passada (em casa do benfica), voltou a falhar diante artur.
os encarnados igualaram o marcador, mas, no relvado, o dérbi estava cada vez mais desnivelado. o benfica criava oportunidades sucessivas para marcar (aos 57, 63 e 65 minutos), e o ritmo (ou a falta dele) limitava, cada vez mais, o sporting a defender. os leões só voltaram a aparecer no ataque quando insua, aos 75 minutos, disparou de longe uma bola ao poste da baliza de artur.
nem cinco minutos volvidos, e tudo piorava para os leões. salvio, na direita, ultrapassou insua e rematou para a baliza de rui patrício, onde só a mão de boulahrouz impediu a bola de entrar. resultado: expulsão do holandês e grande penalidade para o benfica, que óscar cardozo converteu para, agora sim, atirar os encarnados para a vantagem.
depois, ao fim de seis minutos, marcaria mais um, e de novo graças a um desvio leonino: o paraguaio cabeceou uma bola cruzada por lima, um míssil que ainda bateu na nuca de insua. até ao final, o sporting continuou a defender, a suster os ataque do benfica, que já se preocupavam mais em reter a bola em sua posse do que em apontar à baliza de rui patrício.
do lado da vitória, o benfica volta colar-se ao fc porto na co-liderança do campeonato, e os leões, com nova derrota, ficam a 18 pontos dos rivais e a nove dos lugares europeus. o dérbi deu uma hora de motivação, força e jogo à equipa, antes de a equipa regressar ao que tem sido a sua época: erros defensivos, desconcentrações, quebras físicas e ineficácia a atacar.
onzes iniciais
sporting: rui patrício; dier, boulahrouz, rojo e insua; rinaudo, elias e pranjic; carrillo, capel e wolfswinkel.
benfica: artur, maxi, jardel, garay e melgarejo; matic, andré gomes, salvio e ola jonh, lima e cardozo.
(artigo em actualização.)