estava em casa com uma pulseira electrónica. o julgamento ainda não teria começado e os jornais não estariam numa crise tão grande como aquela em que se encontram. todos os dias haveria directos da porta de casa da família, os familiares seriam entrevistados e uma prima faria parte da casa dos segredos. o veredicto só seria conhecido lá para 2020. entretanto, portugal viveria na profunda ignorância sobre tudo o que diz respeito a troikas e orçamentos de estado. na verdade, não teria muito interesse em saber, porque o renato, coitadinho, matou mas!, sempre um grande mas. desculpem a minha brutalidade, mas no meio de todo o horror, carlos castro teve sorte.
bom senso
houve uma curiosidade mesquinha para saber se a recolha do banco alimentar contra a fome seria afectada pelas recentes declarações de isabel jonet. não gostei de ouvir a opinião da presidente do ba sobre os problemas do país e sempre lamentei em privado o seu excesso de protagonismo. o lugar que ocupa requer discrição, pela natureza do problema com que lida, a extrema necessidade de quem não tem o que comer, e também porque se presta à manipulação política. tenho pena de viver num país que precisa de ter bancos alimentares. mas a fome não quer saber de vaidades e lamentos. e as pessoas que contribuem para a recolha de alimentos e nela trabalham souberam distinguir o essencial do acessório. algumas não querem ouvir isabel jonet, outras não se interessam, mas não hesitaram na hora de dar. a campanha foi um sucesso, com 2.914 toneladas de alimentos recolhidos. basta ter bom senso para ficar feliz com o resultado.
twitteiro ilustríssimo
os incréus do gawker, um site da autoria de gente sem respeitinho por ninguém, anunciou que o papa bento xvi e o cantor chris rock têm em comum ambos aparecerem no twitter ao mesmo tempo. a comparação é injusta para bento xvi e rebuscada no caso de chris brown, que sempre teve conta, mas que a apagou na sequência de um ataque brutal de uma comediante feminina, jenny jonhson. chris brown bate em mulheres, mas foge ao terceiro tweet. é bom saber. é evidente que o papa nada tem que ver com estas questiúnculas. o início da actividade ‘twitteira’ papal está marcada para 12 de dezembro, dia em que haverá uma sessão de perguntas e respostas com bento xvi. usando a hashtag ‘#askpontifex’ vai ser possível fazer perguntas a sua santidade. a conta @pontifex existe em várias línguas, entre as quais o português, e os tweets serão traduzidos em simultâneo. todas as pessoas de quem gosto deviam estar no twitter. aqui está uma delas, que bom.
aguenta, aguenta
apareceu há dias um manifesto assinado por 78 personalidades portuguesas, entre as quais, e por que não?, valter hugo mãe, a exigir a demissão de passos coelho. mário soares, o primeiro subscritor da carta, ainda tentou aliciar adriano moreira, que não aceitou participar, e freitas do amaral, que disse estar ausente do país. olha, lol. seja como for, a exigência é feita por um grupo que fala em nome de um povo que exprimiu a vontade em eleições livres. até os que se arrependeram de ter dado o voto a quem nos governa sabem que não havia outra alternativa (o que é mau, mas infelizmente habitual no nosso país), mas os mesmos sabem também que a alternativa continua a não existir. talvez a maior piada esteja no facto de ter de ser mesmo passos coelho a resolver este buraco que nos engolirá a todos em 2013. é assim que está colocado o problema no que respeita ao orçamento do estado. o governo que aguente, como diz não sei quem.
uma estrela
desfado, de ana moura, é um daqueles discos que se ouve com prazer do início ao fim. quase todos os temas são bem escritos e todos, mesmo os de que não gosto, são cantados e interpretados com honestidade e um imenso talento. ana moura arrisca em temas como ‘thank you’, de david poe (um dos meus preferidos), ou na versão de ‘a case of you’, um clássico de joni mitchell. mas há mais riscos, sobretudo nos arranjos originais na maioria dos temas. ‘como nunca mais’, de tozé brito, é o momento de descanso, com uma canção clássica, que funciona bem. menciono apenas os autores das letras, ‘desfado’, de pedro da silva martins, ‘até ao verão’, de márcia santos, ‘o espelho de alice’, de nuno miguel guedes e ‘se acaso um anjo viesse’, de aldina duarte, para dizer que são canções perfeitas numa obra memorável. temos ainda os agradecimentos de ana moura, que mostram o que é uma estrela a sério. é alguém que sabe que nada de excepcional se faz sozinho.