se em 2011 o foco no sector foram os prejuízos de 1,5 mil milhões
de euros acumulados pela banca portuguesa, este ano, os holofotes viraram-se
para a intervenção do estado, como não se via desde o pós 25 de abril de 1974.
no entanto, os principais bancos conseguiram evitar uma
nacionalização parcial, através do recurso a instrumentos híbridos de capital
autorizados por bruxelas.
a par dos aumentos de capital que os maiores bancos fizeram este
ano, o bcp foi buscar 3.000 milhões de euros à linha de recapitalização da
‘troika’ e o bpi arrecadou 1.500 milhões. em contrapartida, além dos juros que
vão ter de pagar aos cofres públicos, estes bancos terão representantes do
estado nos seus órgãos de gestão (no bcp dois representantes com assento no
conselho de administração e no bpi um no conselho fiscal).
também o banif deverá recorrer ainda este ano a dinheiro público,
mas já não deverá escapar a uma nacionalização parcial (ainda que o controlo da
gestão continue em mãos privadas).
já o bes conseguiu suprir as suas necessidades de capital através
do esforço dos seus accionistas privados (1.010 milhões de euros), ao passo que
a caixa geral de depósitos recorreu ao accionista estado (1.650 milhões de
euros).
além da ajuda ao nível do capital, o estado continuou a auxiliar
os bancos a financiarem-se, dando garantia soberana às emissões de dívida das
seis entidades bancárias que recorreram ao mecanismo desde a sua criação – após
a crise financeira iniciada em 2007 -, cujo total ascendia até junho a 16.525
milhões de euros (de um total disponível de 35 mil milhões de euros).
já por meios próprios, também o bes e a cgd conseguiram
recentemente regressar aos mercados internacionais de financiamento, mesmo
antes da república portuguesa, cujas previsões do governo apontam apenas para setembro
de 2013.
“o capital e a liquidez foram as duas áreas em que os bancos
portugueses melhoraram face a 2011”, disse à agência lusa um analista do sector,
que pediu para não ser identificado, destacando que a ajuda estatal permitiu
cumprir as exigências de capital da autoridade bancária europeia (9% de rácio
‘core tier 1’ em junho) e do banco de portugal (10% no final do ano, com
critérios menos exigentes).
na liquidez, o analista destacou o papel do banco central europeu
(bce), sobretudo as operações de financiamento a três anos, com que injetou um
bilião de euros no sistema bancário europeu (tendo os bancos portugueses ficado
com 40 mil milhões) e ainda a disponibilidade manifestada pela instituição para
comprar dívida dos países intervencionados, o que permitiu melhorar o preço das
carteiras de dívida soberana (sobretudo, portuguesa) que os bancos tinham e que
alguns aproveitaram para vender e, assim, ganhar liquidez.
paralelamente, alguns bancos recompraram ‘em saldo’ no mercado
títulos de dívida própria.
a complicar a vida dos bancos esteve este ano a necessidade de
provisionarem perdas, sobretudo devido ao aumento do crédito malparado, mas
também por causa da exposição à dívida soberana.
ao mesmo tempo, continuou a cair a concessão de crédito, enquanto
os juros oferecidos pelos depósitos se tornaram agressivos, o que pressionou a
margem financeira dos bancos, que representa cerca de dois terços da receita
das instituições bancárias.
segundo o mesmo analista ouvido pela lusa, com a pressão sobre a
margem financeira e as comissões da banca, apenas as actividades de ‘trading’
estão a suportar a actividade dos bancos.
“numa altura em que os proveitos diminuem, os bancos fazem
racionalização de custos, sobretudo, de custos com pessoal”, realçou à
lusa andré pinheiro, gestor de activos da orey financial.
outra tendência de 2012 é o facto de todos os bancos estarem a
reduzir os quadros de pessoal, seja pela via das reformas, ou da não renovação
dos contratos a termo, quer através de planos de despedimentos e estarem também
a fechar agências.
lusa/sol