o abrandamento nos mercados espanhol e alemão está a anular o sucesso das vendas extra-comunitárias, o crédito malparado triplicou no sector e o número de empresas exportadoras que já não pagam à banca quase duplicou desde janeiro.
a confiança dos agentes do sector mostra ainda que 2013 poderá não ser o que o governo espera. as empresas antecipam menos encomendas e menos negócio nos próximos meses.
um regresso de férias difícil
o abrandamento do sector, que nos últimos dois anos ainda trazia algumas ‘boas notícias’ a portugal, tem vindo a evidenciar-se desde o início do ano, mas após o verão a situação degradou-se, rapidamente.
segundo dados do instituto nacional de estatística (ine), as exportações subiram somente 1,7% no terceiro trimestre deste ano face a um ano antes. este foi, aliás, o crescimento trimestral mais fraco desde o início de 2010, sendo também metade do verificado nos três meses anteriores (3,7%) e um quarto da média dos últimos três anos (7,6%).
se a venda de bens para o exterior ainda se ‘aguenta’ em terreno positivo (subida de 2,4% no 3º trimestre de 2012), as exportações de serviços estão, desde março, em terreno negativo (ver gráficos). e os serviços representam 30% das exportações totais em portugal.
a travagem deve-se, sobretudo, à menor procura de países como a espanha e a alemanha, que quase anularam o ‘sucesso’ que as empresas nacionais têm tido junto dos clientes fora da zona euro.
entre janeiro e setembro, as vendas para angola e eua subiram acima de 30%, enquanto as destinadas à china mais do que duplicaram (mais 147%) face ao período homólogo, adianta o ine.
o problema é que os mercados espanhol e alemão representam 35% do total de exportações portuguesas, um valor muito superior ao total do mercado extra-comunitário (peso de 28%): a china tem um peso de apenas 1,8% e angola pouco mais de 6%.
as vendas para espanha recuaram 4,6% e para a alemanha 1,8%, nos primeiros nove meses do ano, eclipsando quase 700 milhões de euros em vendas, cerca de metade dos ganhos alcançados no mesmo período em angola, eua e china (cerca de 1,4 mil milhões), por exemplo.
mas além da desaceleração nos principais compradores, as empresas exportadoras enfrentam, nos últimos meses, um fenómeno que costumava ser pouco relevante no sector: restrição de financiamento e dificuldades em pagar os compromissos à banca.
exportadoras endividadas
a explosão do crédito malparado é um fenómeno que, apesar de não ter ainda a dimensão de outros sectores da economia – como a construção e o mercado imobiliário –, registou nos últimos meses uma evolução preocupante.
segundo os dados mais recentes do banco de portugal, a percentagem de crédito malparado no crédito total das empresas exportadoras junto da banca quase triplicou entre janeiro e outubro, subindo de 1,7% para 4,6%. só entre setembro e outubro, este indicador subiu quase 50%. hoje, em cada 100 exportadoras 15 já não conseguem pagar a totalidade das suas dívidas ao sector financeiro. o crédito concedido ao sector também tem estado em queda, ainda que ligeira (menos 3% entre janeiro e setembro).
mas o pior ainda poderá estar para vir, na medida em que a crise do euro continua a penalizar a região para onde são escoados mais de 70% dos produtos portugueses vendidos ao exterior.
o pessimismo dos empresários é já notório. segundo dados do ine, os indicadores avançados para o volume de negócios e para as novas encomendas das empresas exportadoras – que mostram as expectativas para os próximos seis meses – tocaram novos mínimos de três anos em outubro, sinalizando que os empresários estão cada vez pessimistas quanto ao final deste ano e a 2013.
governo ainda optimista
as perspectivas macroeconómicas também não ajudam. a zona euro estará estagnada em 2013, enquanto espanha e itália vão estar sob forte austeridade e debaixo de uma recessão. só no país vizinho – e de acordo com as estimativas do fundo monetário internacional (fmi) e da comissão europeia – a recessão será mais profunda que em portugal. alemanha e frança terão uma expansão discreta com o seu produto interno bruto (pib) a subir cerca de 0,5%.
o governo espera que as exportações cresçam 3,6% em 2013, uma performance ainda assim abaixo do estimado para este ano (4,3%) e que já denota a travagem nos mercados europeus. ainda assim, as previsões de lisboa são mais optimistas do que as avançadas por bruxelas (crescimento das exportações de 2,7%) e pelo fmi (3,5%).