uma afirmação tão inacreditável quanto denunciadora, pelo absurdo da negação, da importância que dá ao tema e da atrapalhação que lhe causa abordá-lo.
como há muito se percebeu – e o próprio tem deixado perceber nos últimos anos – barroso é um potencial candidato presidencial. e o seu segundo mandato em bruxelas acaba no final de 2014 – um ano antes da eleição para belém, o timing ideal para preparar e lançar uma campanha.
barroso tem dois factores de peso a favorecerem a sua candidatura. será o português que desempenhou o mais importante cargo internacional, de presidente da comissão europeia, o que lhe confere um estatuto político de primeira grandeza. e as presidenciais ocorrerão logo a seguir às legislativas de 2015, cujo desenlace mais provável – após estes desgastantes anos de crise e de troika – será uma mudança de ciclo político, com a vitória do ps – o que beneficiará, por contrapeso, a candidatura do centro-direita a belém.
mas barroso tem, por outro lado, dois obstáculos de monta às suas ambições presidenciais. os portugueses não esqueceram que em 2004 abandonou o país em situação crítica e deixou o governo nas mãos de santana lopes – e muitos não lhe perdoaram. acresce que grande parte do eleitorado o vê hoje como um dos responsáveis da troika e o associa ao impopular programa de austeridade imposto ao país. há pouco mais de um mês, foi mesmo vaiado à saída de um teatro em almada.
não é, pois, por acaso que barroso se empenha em garantir que a comissão europeia a que preside «de forma alguma tem tido uma posição de maior exigência a portugal do que as outras instâncias [fmi e bce]». ou que, ao contrário de guterres, não faz mea culpa sobre a crise do país: «não foi o meu governo que criou esta situação muitíssimo grave». regista-se.
já agora, barroso pode fixar a data das presidênciais: serão em janeiro de 2016. é uma informação que lhe poderá ser útil.
jal@sol.pt